Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação
Sócrates (470 a.C.-399 a.C.) foi um filósofo grego, mesmo não sendo o primeiro filósofo da história, é reconhecido como o "pai da filosofia" por representar o grande marco da filosofia ocidental.
Biografia de Sócrates
Sócrates (c. 469-399 a.C.) nasceu em Atenas, que em meados do século V a.C. tornou-se a metrópole da cultura grega.
Da sua infância pouco se sabe para além de sua origem pobre. Ele era filho de um escultor, Sofronisco, e uma parteira, Fenarete, da qual Sócrates pegaria a ideia do parto para sua forma de fazer filosofia.
Homem feito, chamava atenção não só pela sua inteligência mas também pela estranheza de sua figura e seus hábitos. Corpulento, olhos saltados, vestes rotas e pés descalços, era considerado o homem mais feio de Atenas.
Costumava ficar horas mergulhado em seus pensamentos. Quando não estava meditando solitário, conversava com seus discípulos, procurando ajudá-los na busca da verdade.
Nessa época, teve início a segunda fase da filosofia grega, conhecida como socrática ou antropológica, onde Sócrates foi o principal filósofo desse período da filosofia antiga. Nessa fase, os filósofos passaram a se preocupar com os problemas relacionados ao indivíduo e a organização da humanidade.
Passaram a perguntar: O que é verdade? O que é o bem? O que é a justiça?, uma vez que na primeira fase da filosofia grega a preocupação era com a origem do mundo, fase que ficou conhecida como periodo pré-socrático da filosofia.
Para Sócrates, existiam verdades universais, válidas para toda a humanidade em qualquer espaço e tempo. Para encontrá-las, era necessário refletir sobre elas. Essa percepção da verdade como alcançável é um fator de diferenciação entre Sócrates e os sofistas.
O princípio da filosofia de Sócrates estava na frase "Conhece-te a ti mesmo", um oráculo universal dado pelo deus Apolo na mitologia grega. Antes de lançar-se em busca de qualquer verdade, o homem precisa se auto analisar e reconhecer sua própria ignorância.
O próprio Sócrates ao consultar o Oráculo de Delfos recebeu a mensagem de que ele era o mais sábio entre os gregos.
Sócrates percebeu que ele era sábio porque, dentre os sábios, era o único que julgava não saber e buscava o verdadeiro conhecimento. Da afirmação de sua própria ignorância faz surgir a célebre frase:
Só sei que nada sei.
A partir desta ideia, é desenvolvido o Método Socrático. O filósofo inicia uma discussão e conduz seu interlocutor ao reconhecimento de sua própria ignorância através do diálogo: é a primeira fase de seu método, chamada de ironia ou refutação.
Na segunda fase, a "maiêutica" (técnica de trazer à luz), Sócrates solicita vários exemplos particulares do que está sendo discutido.
Por exemplo, ao ser questionado sobre a coragem, desenvolve um diálogo com um general muito respeitado por sua atuação em guerras. O general (Laques) lhe dá exemplos de atos corajosos. Não satisfeito, Sócrates analisa esses casos com a finalidade de descobrir o que é comum a todos eles.
Esse algo comum poderia representar o conceito de coragem, a essência dos atos heroicos, que existirá em qualquer ato corajoso, independente das circunstâncias que o cercarem.
A "técnica de trazer à luz" pressupõe uma crença de Sócrates, segundo a qual a verdade está no próprio homem, mas ele não pode atingi-la porque não só está envolto em falsas ideias, em preconceitos, como está desprovido de métodos adequados.
Derrubado esses obstáculos, chega-se ao conhecimento verdadeiro, que Sócrates identifica como virtude, contraposta ao vício, o qual se deve unicamente à ignorância.
Ninguém faz o mal voluntariamente.
A Morte de Sócrates
Sócrates era uma figura célebre de Atenas. Por onde ia, carregava consigo uma quantidade imensa de seguidores e discípulos, sobretudo jovens.
Em seus encontros com figuras respeitadas da polis grega, por conta de seu método, acabava expondo e irritando seus interlocutores.
Esse comportamento deu a Sócrates inimigos entre as figuras mais poderosas de Atenas. Em pouco tempo, o filósofo foi acusado de corromper a juventude e atentar contra os deuses gregos.
Seu julgamento foi realizado em duas partes. Na primeira, a votação sobre sua culpa ou inocência teve uma margem apertada a favor de sua condenação (280 a 220).
Posteriormente, Sócrates propõe como pena alternativa o pagamento de uma multa. Essa pena é amplamente recusada e a condenação é a favor da pena capital (360 a 141).
Sócrates aceita o julgamento e despede-se com a frase:
É a hora de irmos: eu para a morte, vós para as vossas vidas; quem terá a melhor sorte? Só os deuses sabem.
O legado de Sócrates
Sócrates não deixou obra escrita, achava mais eficiente o intercâmbio de ideias, mediante perguntas e respostas entre duas pessoas e acreditava que a escrita enrijecia o pensamento.
São quatro as fontes básicas para o conhecimento de Sócrates: o filósofo Platão, seu discípulo, em cujos Diálogos o mestre figura sempre como personagem central.
A segunda fonte é o historiador Xenofonte, amigo e frequentador assíduo das reuniões que Sócrates participava.
O dramaturgo Aristófanes cita Sócrates como personagem em algumas de suas comédias, mas sempre o ridiculariza.
A última fonte é Aristóteles, discípulo de Platão, e que nasceu 15 anos após a morte de Sócrates. Essas fontes nem sempre são coerentes entre si.
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Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação
A Filosofia Antiga corresponde ao período do surgimento da filosofia grega no século VII a.C.
Ela surge da necessidade de explicar o mundo de um novo modo. Os filósofos buscam encontrar respostas racionais para a origem das coisas, dos fenômenos da natureza, da existência e da racionalidade humana.
O termo filosofia é de origem grega e significa “amor ao saber”, ou seja, a busca pela sabedoria.
De tal modo que, durante a transição do pensamento mítico para o racional, os filósofos acreditavam conseguir transmitir a mensagem dos deuses. Os deuses e as entidades mitológicas serviam de inspiração para a filosofia nascente.
Por esse motivo, no início, a filosofia estava intimamente relacionada com a religião: mitos, crenças, etc. Assim, o pensamento mítico foi dando lugar ao pensamento racional, ou ainda, do mito ao logos.
Contexto Histórico do Surgimento da Filosofia
A filosofia antiga surge com a substituição do saber mítico ao da razão e isso ocorreu com o surgimento da polis grega (cidade-estado).
Essa nova organização grega, foi fundamental para a desmistificação do mundo através da razão e, com isso, as reflexões dos filósofos.
Mais tarde, as discussões que ocorriam em praça pública juntamente com o poder da palavra e da razão (logos) levaram a criação da democracia.
Períodos da Filosofia
Lembre-se que a filosofia está dividida didaticamente em 4 períodos:
- Filosofia Antiga
- Filosofia Medieval
- Filosofia Moderna
- Filosofia Contemporânea
Filosofia Grega
A filosofia grega está dividida em três períodos:
- Período Pré-socrático (séculos VII a V a.C.): corresponde ao período dos primeiros filósofos gregos que viveram antes de Sócrates. Os temas estão centrados na natureza, do qual se destaca o filósofo grego Tales de Mileto.
- Período Socrático (séculos V a IV a.C.): também chamado de período clássico, nesse momento surge a democracia na Grécia Antiga. Seu maior representante foi o filósofo grego Sócrates que começa a pensar sobre o ser humano. Além dele, merecem destaque: Aristóteles e Platão.
- Período Helenístico (séculos IV a.C. a VI d.C.): Além de temas relacionados com a natureza e o homem, nessa fase os estudos estão voltados para a realização humana por meio das virtudes e da busca da felicidade.
Saiba mais sobre os temas:
- Filósofos Pré-Socráticos
- Cultura Helenística
Principais Escolas Filosóficas da Filosofia Antiga
Agora que você já sabe os períodos em que está dividida, veja quais as principais escolas de pensamento da filosofia antiga:
- Escola Jônica: reuniu os primeiros filósofos na cidade grega de Mileto, localizada na região da Jônia, no litoral ocidental da Ásia menor (atual Turquia). Além de Mileto, temos a cidade de Héfeso, com Heráclito como seu principal representante e Samos, com Pitágoras. Na cidade grega de Mileto destacam-se Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes.
- Escola Itálica: foi desenvolvida na atual região do sul da Itália (na cidade de Elei) e da Sicília (nas cidades de Aeragas e Lentini). Destacam-se os filósofos Parmênides, Zenão, Empédocles e Górgias.
Principais Filósofos da Antiguidade
Veja abaixo os principais filósofos e os principais problemas filosóficos refletidos por eles:
1. Tales de Mileto
Tales de Mileto (623-546 a.C.) foi um filósofo pré-socrático, considerado o “Pai da Filosofia”. Ele propõe que a água é a substância primordial da vida, denominada de arché. Para ele “Tudo é água”.
2. Anaximandro
Anaximandro (610-547 a.C.) foi discípulo de Tales de Mileto. O filósofo procurou buscar o elemento fundamental de todas as coisas, denominando de ápeiron (o infinito e o indeterminado), que representaria a massa geradora da vida e do universo.
3. Anaxímenes
Anaxímenes (588-524 a.C.) foi discípulo de Anaximandro. Para o filósofo, a substância primordial que origina todas as coisas é o elemento ar.
4. Pitágoras
Segundo Pitágoras de Samos (570-490 a.C.), a origem de todas as coisas estava intimamente relacionada com os números. Suas ideias foram essenciais para a filosofia e a matemática (Teorema de Pitágoras).
Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.) foi um filósofo pré-socrático que contribuiu com as reflexões da existência. Segundo ele, tudo está em processo de mudança e o fluxo constante da vida é impulsionado pelas forças opostas. Elegeu o fogo como elemento essencial da natureza.
6. Parmênides
Parmênides (510-470 a.C.), considerado um dos principais filósofos pré-socráticos, contribuiu para os estudos do ser (ontologia), da razão e da lógica. Em suas palavras: “O ser é e o não ser não é”.
7. Zenão de Eleia
Zenão de Eleia (488-430 a.C.) foi discípulo de Parmênides. De suas reflexões filosóficas, destaca-se o “Paradoxo de Zenão”, no qual pretendia demonstrar que a noção de movimento era contraditória e inviável.
8. Empédocles
Por meio do pensamento racional, Empédocles (490-430 a.C.) defendeu a existência dos quatro elementos naturais (ar, água, fogo e terra), os quais agiriam de maneira cíclica a partir de dois princípios: o amor e o ódio.
9. Demócrito
Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) foi criador do conceito de Atomismo. Segundo ele, a realidade era formada por partículas invisíveis e indivisíveis denominadas de átomos (matéria). Nas palavras do filósofo “Tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade”.
10. Protágoras
Protágoras (480-410 a.C.) foi um filósofo sofista e famoso por sua célebre frase “O homem é a medida de todas as coisas”. Contribuiu para as ideias associadas ao subjetivismo dos seres.
Górgias (487-380 a.C.) foi um dos maiores oradores da Grécia antiga. Esse filósofo seguiu os estudos sobre o subjetivismo de Protágoras, o que o levou a um ceticismo absoluto.
12. Sócrates
Sócrates (469-399) foi um dos maiores filósofos da Grécia antiga que contribuiu para os estudos do ser e de sua essência.
A filosofia socrática esteve pautada no autoconhecimento (“conhece-te a ti mesmo”), desenvolvida mediante diálogos críticos (ironia e maiêutica).
13. Platão
Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e escreveu sobre as ideias de seu mestre. De suas reflexões filosóficas destaca-se a “Teoria das Ideias”, a base do platonismo, que seria a passagem do mundo sensível (aparência) para o mundo das ideias (essência). O “mito da caverna” demostra essa dicotomia entre a ilusão e a realidade.
14. Aristóteles
Aristóteles (384-322 a.C.), ao lado de Sócrates e Platão, foi um dos mais importantes filósofos da Antiguidade.
Suas ideias são consideradas a base do pensamento lógico e científico. Escreveu diversas obras sobre a essência dos seres (Metafísica), a lógica, a política, a ética, as artes, a potência, etc.
15. Epicuro
Epicuro (324-271 a.C.) foi o fundador do epicurismo e para o filósofo a vida deveria estar baseada no prazer.
No entanto, diferente da corrente hedonista, o prazer epicurista seria racional e equilibrado. Se não fosse dessa maneira, o prazer poderia resultar na dor e no sofrimento.
16. Zenão de Cítio
Zenão de Cítio (336-263 a.C.) foi o fundador do estoicismo. Defendia a ideia de uma realidade racional, que ocorre por meio do dever da compreensão.
Dessa forma, por meio da compreensão, a realidade de que faz parte o homem e a natureza leva ao caminho da felicidade.
17. Pirro
Pirro (365-275 a.C.) foi fundador do Pirronismo. Ele defendia a ideia da incerteza em tudo que nos envolve, por meio de uma postura ceticista.
Assim, nenhum conhecimento é seguro sendo a busca da verdade absoluta uma postura inútil.
18. Diógenes
Diógenes (413-327 a.C.) foi um filósofo da corrente filosófica do cinismo. Ele buscou defender uma postura anti-materialista se afastando de todos os bens materiais e focando no conhecimento de si.
Veja também: Cinismo.
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).