O que o mapa revela sobre a situação do Brasil na rede mundial dos cabos de comunicação submarinos

Em 2019, o acesso à internet passou a estar disponível a 51% da população mundial. Foi o primeiro ano em que a conectividade ultrapassou a casa dos 50%. Contudo, o índice mostra que, a despeito da Rede Mundial de Computadores ter ganhado importância nas mais diversas esferas sociais nos últimos 20 anos, quase metade da população ainda não dispõe desse recurso. A informação é apresentada e discutida no relatório "Estado da Banda Larga 2019", da Comissão de Banda Larga, grupo que reune representantes de empresas e das Nações Unidas.

Quando considerados os domicílios, o índice aumenta, chegando a 57,8%. Em 2005, 19% das casas conseguiam navegar na web. Contudo, quando considerada a banda larga fixa, o percentual cai para 14%. Já o ritmo de crescimento de conectividade em lares desacelerou, tendo saído de 53% para 54,8% entre 2017 e 2018. Em países mais pobres, a taxa de crescimento caiu de 19% em 2017 para 17,5% em 2018.

A análise sobre a presença de lares atendidos por serviços de fixas de banda larga é considerada importante por pesquisadores uma vez que as conexões móveis em geral possuem limitações para a fruição plena de serviços, como franquias que restringem o consumo, por exemplo, de vídeos em quantidade razoável.

Banda larga é o termo empregado para a conectividade com uma velocidade de pelo menos 256 kbps e que assegure um conjunto mínimo de atividades online, como visitação de sites e aplicações de comunicação. O índice de 51% ainda está distante da meta de chegar a 75% de penetração até 2025.

Desigualdades

O relatório aponta que para além de metade da população estar fora da internet, entre os conectados há desigualdades importantes. “As distâncias existentes na adoção de conectividade são conduzidas por brechas de diferentes tipos: geografias (áreas urbanas x rurais), renda (ricos x pobres), idade e gênero, entre outros”, destaca o relatório.

Enquanto a conexão de baixa qualidade foi apontada por 43% em países mais pobres, o problema foi mencionado 25% de entrevistados em nações mais ricas. Outro exemplo mais claro é no preço dos pacotes entre diferentes regiões do globo. Enquanto o preço de uma franquia de 1 giga em países do Sul da Ásia consome 1,2% da renda mensal média, na África Subsaariana o serviço custa o equivalente a 6,8% da receita média mensal.

Redes

Contudo, conforme o relatório a infraestrutura avançou e hoje está presente em localidades abrangendo 96% da população mundial. O tráfego internacional de dados é realizado por 400 cabos submarinos, abarcando 1,2 milhão de quilômetros, e por 775 satélites com atuação em serviços de comunicação na órbita da Terra.

No ecossistema móvel, 2018 foi o ano em que a tecnologia 4G se tornou hegemônica, ultrapassando a 2G, sendo responsável por 44% das conexões móveis. Citando dados da consultoria GSMA, o documento ressalta que o 5G, o novo paradigma tecnológico dos serviços móveis, tornou-se “uma realidade”.

No ano passado, o novo padrão foi lançado nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Em 2019, a previsão é que ele passe a ser ofertado em 16 novos países. A expectativa da GSMA é que em 2025 haja 1,4 bilhão de conexões, cerca de 15% da base total.

Encruzilhada

Para os autores, a Internet se encontra em uma “encruzilhada”. “Há um reconhecimento crescente de que os desafios e riscos demandam políticas e regulações específicas, assim como novas abordagens de negócio e iniciativas industriais voltadas a mitigar efeitos não intencionados e resultados negativos da adoção da internet”.

O documento ressalta que as pessoas não podem apenas ser divididas entre usuários e não-usuários, mas deve ser entendida a diversidade de formas de conectividade e experiências online. O reconhecimento dessas especificidades passa pela consideração de públicos mais vulneráveis em sua presença na web. Mulheres estão sujeitas a perseguição, assédio e discurso de ódio na web. Já crianças são vítimas de abusos, exploração e bullying.

Diante à variedade de formas de acesso, os autores defendem o que chamam de “conectividade universal relevante”. Essa noção envolve uma banda larga “disponível, acessível, relevante, barata, segura, confiável e que empodere os usuários levando a impactos positivos”. Essa percepção leva em consideração também não somente o custo, mas diferentes motivadores para se conectar e ter experiências de qualidade no ambiente online.

Modalidades de uso

Considerando a variedade de experiências, o relatório traz dados sobre diferentes modalidades de atividades na web (ver gráfico). A troca de mensagens por apps como Whatsapp e FB Messenger é o mais popular, seguida por redes sociais, ligações online e ler notícias. As ações variam conforme a renda, com a prática de obter informação e comprar produtos sendo mais comum em países mais ricos.

O primeiro cabo submarino que liga o Brasil e a Europa foi inaugurado no começo de junho em Portugal. O cabo de fibra ótica possui 6 mil metros de extensão, fica a 4 mil metros de profundidade no Oceano Atlântico e conecta diretamente as cidades de Fortaleza, no Brasil, e Sines, em Portugal. A novidade abre as portas para um acesso de alta qualidade, além de reduzir a latência em até 50% e aumentar a velocidade de transmissão dos dados.

O projeto milionário foi financiado pela empresa EllaLink, pela Comissão Europeia e pelo Governo Federal brasileiro, por meio do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI). Para entender melhor a importância do cabo submarino, o TechTudo responde as principais perguntas sobre o tema.

🔎 Análise do Realme Watch S: um excelente companheiro

O que o mapa revela sobre a situação do Brasil na rede mundial dos cabos de comunicação submarinos
2 de 4 Chegada de fibra ótica ao litoral — Foto: Reprodução/EllaLink Chegada de fibra ótica ao litoral — Foto: Reprodução/EllaLink

O que é um cabo submarino?

Os cabos submarinos são feitos de fibra ótica e possuem isolamento especial. Como o próprio nome diz, os cabos são instalados no assoalho oceânico. São comumente utilizados em redes internacionais de telecomunicações e interligam países e continentes. No Brasil, essa tecnologia também é utilizada para fazer a conexão entre as cidades do litoral. Os cabos conseguem transmitir todo tipo de dados digitais, como mensagens de texto, áudio, imagens e vídeos, de um ponto a outro. Essa tecnologia é essencial para utilizar a internet da forma como conhecemos atualmente.

Por que conectar Brasil e Europa?

O novo cabo é o primeiro a conectar diretamente a América Latina à Europa. Nos demais cabos utilizados atualmente no Brasil, as informações passam pelos Estados Unidos, e graças ao novo cabo ótico isso não será mais necessário. A infraestrutura permite fluxo de dados de 100 Terabits por segundo e latência de 60 milissegundos. São quatro pares com 25 Terabits por segundo cada, de acordo com a empresa responsável. O contrato para utilização do cabo terá duração de 25 anos.

Ou seja, o cabo submarino permite maior tráfego de dados, com alta velocidade e com menor latência - tempo necessário para a transmissão de dados. Do ponto de vista científico, essa conexão vai aumentar as oportunidades de estudo e pesquisa entre a América Latina e a Europa, bem como o acesso a equipamentos científicos localizados em ambos territórios.

O cabo óptico proporcionará melhorias para o mercado financeiro, negócios digitais, serviços na nuvem, suporte para tecnologia 5G e mais qualidade nos serviços de streaming e jogos online.

O que o mapa revela sobre a situação do Brasil na rede mundial dos cabos de comunicação submarinos
3 de 4 Novo cabo que liga a América Latina a Europa traz diversos benefícios — Foto: Foto: Ministério da Comunicação/Reprodução Novo cabo que liga a América Latina a Europa traz diversos benefícios — Foto: Foto: Ministério da Comunicação/Reprodução

Quanto tempo demorou para construir?

O projeto do cabo submarino que liga o Brasil e a Europa começou a ser idealizado em 2013, mas a construção só começou em 2018. Ao todo foram necessários, aproximadamente, três anos para conclusão da obra.

Quem são os donos do cabo submarino?

O custo total do projeto ficou em 150 milhões de euros, cerca de R$ 885 milhões em conversão direta. Nem todos os detalhes financeiros foram divulgados, mas é sabido que o governo brasileiro entrou com 8,9 milhões de euros e a Comissão Europeia bancou 25 milhões de euros.

A EllaLink enviou o seguinte esclarecimento ao TechTudo: “O aporte da UE e do governo brasileiro foi feito no Consórcio BELLA (Building the Europe Link to Latin America), formado pelas redes de pesquisa e educação GÉANT (Europa) e RedCLARA (América Latina), que vão usar o cabo para trocar dados de pesquisas. O BELLA, juntamente com Cabo Verde Telecom e Emacom (Ilha da Madeira), não têm participação acionária no empreendimento – são clientes âncora, que vão usar os recursos empregados para utilizar o cabo.”

A internet vai ficar cara?

Apesar do alto investimento necessário para a instalação dos cabos submarinos, não há informações de que o valor da internet sofrerá alteração para os consumidores. O que se sabe é que a nova estrutura trará avanços para os serviços, como maior rapidez para a transmissão de informações, suporte para 5G e serviços na nuvem.

O que o mapa revela sobre a situação do Brasil na rede mundial dos cabos de comunicação submarinos
4 de 4 iPhone 12 é o primeiro com internet 5G — Foto: Reprodução/Apple iPhone 12 é o primeiro com internet 5G — Foto: Reprodução/Apple

Além disso, o compartilhamento de informações científicas e culturais entre os países também receberá melhorias.

Este tipo de coisa é comum?

Os cabos submarinos são essenciais para a transmissão de dados – sejam de telefone, internet ou outros dados. No Brasil, o primeiro cabo totalmente submarino foi inaugurado em 1874 e conectava o Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. Posteriormente, novos cabos foram lançados para interligar o país com diversos territórios do mundo. A capital cearense, onde o cabo EllaLink está ancorado, possui 16 cabos em operação que conectam o país com a África, Europa, América do Norte, América Central e América do Sul. Por isso, é considerado o ponto de maior entroncamento de cabos do mundo, segundo o governo estadual.

Com informações do Governo Federal (1/2)

🔎 Qual é o melhor Snapdragon intermediário? Veja respostas no Fórum TechTudo

O que o mapa revela sobre a situação do Brasil na rede mundial dos cabos de comunicação submarinos

Conheça as novidades do Android 12