Como os antropólogos estudam as sociedades indígenas

A ANTROPOLOGIA é a ciência que estuda os diversos aspectos da vida social em diferentes culturas ou sociedades humanas. Sua principal característica é o interesse pela diversidade de modos de viver da humanidade, possuindo um vasto leque de investigação como grupos étnicos e religiosos, migrações, formação de grupos rurais e urbanos e suas formas de expressão e comunicação por meio da arte, de narrativas, do parentesco, de performances, da cultura material, dos tipos de moradias e a relação com o meio ambiente.
A originalidade da ANTROPOLOGIA provém tanto de seu método de pesquisa baseado no trabalho de campo intensivo e na observação participante, em que o pesquisador convive com o grupo investigado, como de sua abordagem comparativa de fenômenos coletivos em diferentes contextos culturais e sociais. Esse método foi cunhado principalmente pelos antropólogos ingleses Malinowski e Raddclif-Brown.

No Brasil ela é conhecida principalmente pelas pesquisas na área de antropologia social e cultural, embora também haja instituições que se dedicam à antropologia biológica. A pesquisa acadêmica é o principal campo de atuação do antropólogo. No entanto, nas últimas décadas novos campos de trabalho têm se configurado. Há uma crescente demanda por parte do Estado por profissionais que sejam capazes de elaborar documentos sobre problemas étnicos ou relativos às terras indígenas ou quilombolas, emitindo pareceres sobre bens patrimoniais materiais e imateriais, laudos periciais e estudos sobre impacto socioambiental de grandes obras. As organizações não governamentais também abriram amplo espaço para antropólogos, especialmente para trabalhos em comunidades urbanas e rurais em que é fundamental o conhecimento da cultura local e de suas formas de representação social.

Especializações • Etnologia Indígena – busca compreender como se organizam esses povos, em seus vários aspectos da vida social. • Antropologia Biológica – é a pesquisa social associada à observância de características físico-biológicas do homem, a partir da ideia de origem e evolução. • Antropologia da Arte – estudo da produção artística humana em seu vínculo com as sociedades. • Antropologia Visual – estuda a representação visual, como fotografia, cinema, e outras mídias. • Antropologia da Ciência – caracteriza-se pelo estudo de como é construído o saber científico e a que tipo de relações sociais estão associadas a este processo. • Antropologia Rural ou das sociedades camponesas – procura pensar o “mundo” rural em oposição ao urbano, considerando ambos como intervenientes. • Antropologia Política – dedica-se à análise dos movimentos políticos e instituições políticas, no sentido amplo, a partir das relações sociais de grupos específicos. • Antropologia da Religião – neste campo, há uma atenção especial, voltada para a observância e compreensão de rituais e símbolos que compõem as diversas práticas religiosas.

• Parentesco – a análise das relações de parentesco e seu papel na vida social

Áreas de atuação O Antropólogo poderá atuar nas seguintes áreas: • Pesquisa acadêmica e ensino, em universidades públicas e particulares. • Atuação nos quadros de órgãos públicos como o Ministério da Justiça (Funai e Ministério Público), da Saúde (Funasa), Ministério da Cultura (IPHAN e fundações culturais), Ministério da Educação e Meio Ambiente, Senado Federal, órgãos municipais entre outros; • Assessoria a Estudos de Impacto Ambiental e laudos periciais sobre populações tradicionais. • Organizações não-governamentais (ONGs) nacionais e internacionais;

• Integrar equipes de museus e acervos culturais públicos e privados.

Onde estudar? • Graduação – A Antropologia é uma habilitação do curso de graduação em ciências sociais, oferecido por diversas universidades públicas estaduais e federais. Atualmente, algumas universidades começam a oferecer a graduação em antropologia, como a Universidade Federal Fluminense.

Universidade Federal de Sergipe – UFS


Universidade Federal do Paraná – UFPR
Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

• Pós-Graduação – Há vários Programas de Pós-graduação em Antropologia, que oferecem cursos de mestrado e/ou doutorado. Geralmente nessas mesmas universidades os cursos de Ciências Sociais oferecem habilitação em antropologia.
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Universidade de Campinas – UNICAMP
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional – UFRJ

Para conhecer mais:
• Associação Brasileira de Antropologia – ABA
• Comunidade Virtual de Antropologia
• Antropologia – Notícias do gabinete e do campo
• Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás
• Setor de Antropologia Biológica do Museu Nacional/UFRJ

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Etimologicamente, o termo antropologia deriva das palavras gregas “anthropos” (ser humano) e “logos” (ciência, estudo, conhecimento) e significa o estudo do ser humano. O objetivo da Antropologia é buscar um entendimento amplo, comparativo e crítico dos seres humanos, seus conhecimentos e formas de ser.

A antropologia abrange o estudo do ser humano como ser cultural, fazedor de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. Tem seu foco de interesse voltado para o conhecimento do comportamento cultural humano, adquirido por aprendizado social. A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos contextos em que são produzidos, a antropologia, como o estudo das culturas, contribui para erradicar preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o relativismo cultural e o respeito à diversidade.

Apesar da grande variedade dos seus campos de interesse, a antropologia se constituiu como um campo científico específico, que se articula teórica e metodologicamente com outras áreas do saber (como a história, filosofia, sociologia, psicologia, biologia e direito), mas conserva sua unidade, uma vez desenvolveu métodos particulares para investigar o ser humano e suas diversas formas culturais, comportamento e vida social.

A etnografia é o método próprio de trabalho da antropologia. O objetivo da etnografia é o de descrever as vidas das pessoas, com precisão e profundidade, através da observação detalhada, obtida principalmente através do trabalho de campo. A partir da observação de fatos e fenômenos in loco, o antropólogo coleta, analisa e interpreta dados e aspectos culturais com o intuito de examinar como se dá a vida social na realidade cotidiana de determinados indivíduos e grupos. O método etnográfico é então um estudo e registro descritivo das características culturais de um determinado grupo social.

Todas as sociedades humanas passadas e presentes, extintas ou existentes, interessam ao antropólogo. Nesse sentido, algumas divisões apontam para a existência de subáreas da Antropologia, como a arqueologia (estudo das culturas extintas), a etnografia (descrição das sociedades humanas), a etnologia (comparação entre as culturas existentes), a linguística (estudo das linguagens) e o folclore (manifestações culturais tradicionais).

Os antropólogos se interessam tanto pelos grupos sociais mais simples, culturalmente diferenciados, quanto por grupos culturais que existem dentro da sua própria sociedade. Atribui-se ao antropólogo a tarefa de formular princípios explicativos da formação e desenvolvimento das culturas humanas.

A antropologia surgiu como ciência no início do século XX, com a sistematização dos estudos sobre culturas consideradas “exóticas”. No Brasil, a antropologia se desenvolveu através dos estudos de pesquisadores europeus sobre as sociedades indígenas no território brasileiro. A partir da década de 1960, os antropólogos passaram a se dedicar ao estudo de outros grupos culturais e identitários de nossa sociedade, no âmbito antropologia urbana. Assim, os temas antropológicos saíram das margens e passaram a ter visibilidade e reconhecimento do seu papel político. Atualmente, a antropologia está inserida nos debates das grandes questões nacionais e é importante em diversas frentes, como por exemplo, na mediação da relação entre povos indígenas e populações tradicionais com o Estado brasileiro.

Bibliografia:

INGOLD, Tim. Antropologia não é etnografia. In: Ingold, Tim. Estar Vivo - ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Ed. Vozes, 2015.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997 [1986]. 11ª edição.

MAGNANI, José Guilherme. Etnografia como prática e experiência, Horizontes Antropológicos, v.15, n.32, 2009, p.129-156.

MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução; São Paulo: Atlas, 2010. 7ª edição.

A antropologia é uma ciência vinculada às ciências sociais que visa entender a formação da humanidade, por seus vários aspectos (culturais, físicos e históricos), no mundo. Para compreender as formações humanas, os antropólogos (cientistas que estudam antropologia) comumente procuram vestígios desse desenvolvimento por meio de estudos arqueológicos de sociedades antigas ou da compreensão cultural das mais diversas formas de sociedade.

Leia também: Sociologia – outro ramo do saber constituinte das ciências sociais

Conceito de antropologia

A palavra antropologia é formada com base nos vocábulos gregos antropos, que significa homem (no sentido de humanidade), e logos, que significa razão, racionalidade ou ciência. A antropologia, nesse sentido, é um ramo das ciências humanas, mais especificamente das ciências sociais, que tem como objetivo o entendimento das formações estruturais daquilo que foi feito pela humanidade. Podemos contabilizar como produção estritamente humana a linguagem, a cultura, a ciência, a intelectualidade e o conhecimento racional.

Ao longo da história do conhecimento, vinculou-se a palavra antropologia à produção humana, não necessariamente por um viés científico. Por exemplo, ocorreu na Grécia Antiga uma imensa diferença entre a filosofia produzida por Sócrates e a filosofia produzida pelos pensadores anteriores, hoje chamados de pré-socráticos.

Hoje, os historiadores da filosofia, que tomam uma boa distância histórica daquele período, chamam o período socrático (formado conjuntamente por Sócrates e Platão) de período antropológico. Isso se dá porque a filosofia pré-socrática tentava compreender a origem do Universo, enquanto a filosofia de Sócrates e Platão ocupava-se de elementos constituídos com base no convívio humano no mundo: a política, a ética, a justiça, a sociedade etc.

A partir do século XIX, com a necessidade de compreender-se outras culturas e povos de fora do eixo europeu por uma questão relacionada a um novo movimento colonialista daquele tempo, os pensadores debruçaram-se sobre os aspectos das diferentes formações humanas. Nesse sentido, a antropologia estabeleceu-se como uma ciência inciada sobre bases equivocadas, mas que se fortaleceu ao longo do século XX como capaz de compreender as formações humanas.

História da antropologia

Podemos encontrar as primeiras e mais remotas preocupações que levaram ao surgimento da antropologia no século XVI. O movimento colonizador observado nas Grandes Navegações, ocorridas a partir do final do século XV, colocou o europeu em contato com um tipo humano jamais visto por ele. A cultura, o modo de vida, a religião e as estruturas sociais tão diferentes causaram espanto aos europeus. Tanto quanto o espanto foi causado, houve o movimento de tomada da terra e dos bens naturais dos nativos por parte daqueles.

Para isso os colonizadores apresentaram a lógica religiosa como legitimação da colonização, pois povos tão, na visão deles, atrasados e profanos deveriam ser forçadamente civilizados. No entanto, apesar da visão predominantemente etnocentrista dos europeus, nem toda a intelectualidade manteve-se uníssona em defender a colonização e a civilização forçadas e etnocentristas dos povos nativos.

Um dos pontos desviantes da linha de raciocínio corrente foi o pensamento do filósofo, político, escritor, jurista e humanista francês Michel de Montaigne. Montaigne foi um crítico da visão europeia, que não reconhecia na cultura diferente da sua uma legitimidade.

No século XIX, houve um novo movimento colonizador, denominado neocolonialismo ou imperialismo. O imperialismo desse período promoveu uma divisão das terras dos territórios da África e da Ásia entre as principais potências europeias, em especial Inglaterra e França, que receberam as maiores porções nessa partilha.

Então, o europeu colocava-se novamente em posição de domínio de outros povos e contato com culturas diferentes. Era, novamente, necessário justificar-se o movimento colonizador, porém com certas diferenças epistemológicas. O século XIX tinha vivenciado a revolução científica do século XVI e caminhava para um positivismo cientificista que necessitava de explicações científicas (e não religiosas) para justificar o domínio de povos. Além da simples partilha das terras, os europeus precisavam de matéria-prima para suprir a necessidade imposta pela expansão industrial do século XIX.

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Na esteira dessa necessidade, era preciso criar-se uma ciência sólida capaz de mostrar as diferenças culturais entre os diferentes povos. O primeiro movimento antropológico com pretensão científica foi promovido a partir da década de 1870 e liderado pelo biólogo inglês Edward Burnett Tylor e pelo geógrafo e biólogo Herbert Spencer.

Como os antropólogos estudam as sociedades indígenas
O geógrafo e antropólogo inglês Edward Burnett Tylor é considerado, junto a Herbert Spencer, um dos primeiros antropólogos.

A teoria construída por esses pensadores ficou conhecida, mais tarde, como evolucionismo ou darwinismo social. O darwinismo social é puramente etnocentrista e tem pretensões científicas. Podemos dizer que a pretensão ao cientificismo não se concretizou, pois tal ideia foi construída em cima de teorias abstratas sobre os povos de fora da Europa sem, de fato, que se houvesse o conhecimento efetivo e prático daqueles povos.

Na visão bairrista e etnocentrista dos primeiros antropólogos, há uma hierarquia das raças que poderia ser medida com a cultura. Ainda nessa visão, a cultura produzida pelo homem branco europeu é superior à cultura produzida pelos outros povos.

Assim, medindo pela cultura, eles afirmavam que a raça branca é superior às outras raças, estabelecendo uma hierarquia que coloca os asiáticos em segundo lugar, os indígenas americanos em terceiro, e, por último, os povos negros africanos. Assim, eles justificavam a colonização como um movimento que poderia levar o desenvolvimento “civilizado e superior” aos povos “menos desenvolvidos”.

Como os antropólogos estudam as sociedades indígenas
O biólogo inglês Charles Darwin foi uma das inspirações teóricas para o desenvolvimento das primeiras teorias antropológicas.

Já no fim do século XIX, as ideias etnocentristas começaram a modificar-se dentro da antropologia com os trabalhos desenvolvidos pelo geógrafo e antropólogo alemão Franz Boas. Boas conheceu povos nativos que viviam no norte do Alasca quando foi contratado como cartógrafo para mapear um conjunto de ilhas da região. Passando um bom tempo no local, ele percebeu que era necessário aprofundar-se na cultura de um povo, fazer o que eles faziam e conhecer a sua língua para realmente entendê-lo sem preconceitos.

No século XX, o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski revolucionou os estudos antropológicos ao fundar um método funcionalista para a antropologia, que entende a sociedade com base no papel e na função dos seus vários elementos.

Para a consumação de seu método, é necessário que o antropólogo mantenha um contato bem próximo com a sociedade em questão (ideia já preconizada por Boas), mas com um método bem específico de análise para que o resultado da produção seja cientificamente confiável. Foi por meio de Malinowski que os estudos antropológicos ganharam maior fundamentação e distanciaram-se de vez do risco do etnocentrismo e da pseudociência.

Como os antropólogos estudam as sociedades indígenas
O antropólogo polonês Bronislaw Malinowski revolucionou a antropologia.

Outro importante método antropológico que surgiu no século XX foi o estruturalismo, desenvolvido primeiramente pelo antropólogo belga Claude Lévi-Strauss. Esse pensador procurou entender, por meio dos estudos linguísticos e da imersão cultural, as estruturas fundamentais que estabelecem laços comuns entre todas as sociedades. Uma delas seria, na visão de Lévi-Strauss, o parentesco, algo comum a todas as sociedades.

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O que é antropologia cultural e social?

Com base no fato de que todos os agrupamentos humanos criam cultura, a antropologia cultural analisa a formação e os elementos dessas culturas para compreender o ser humano. Nesse sentido, o conjunto formado por hábitos, religião, linguagem, artes e toda a gama de produção cultural de uma sociedade é objeto de estudo da antropologia cultural. Essa disciplina da antropologia também pode ser chamada de antropologia social.

Antropologia física

Os diferentes fatores geográficos e biológicos resultam no desenvolvimento de traços diferentes nas pessoas. Os traços físicos e evolutivos são o objeto de estudos dessa vertente da antropologia, que usualmente trabalha junto à arqueologia e à paleontologia para procurar vestígios físicos do desenvolvimento das sociedades humanas.