O que acontecerá na segunda metade do século XXI com dois países mais populosos do mundo atualmente

O que acontecerá na segunda metade do século XXI com dois países mais populosos do mundo atualmente
Com crescimento da população, nações devem buscar alternativas nas áreas da educação e da saúde (Foto: Pixabay)

Um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a população do planeta, atualmente de 7,7 bilhões de pessoas, chegará aos 11 bilhões até o fim do século 21. De acordo com os cálculos, a Terra terá 2 bilhões de habitantes a mais em apenas 30 anos.

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Segundo o documento, o maior aumento populacional nas próximas décadas ocorrerá na Índia, que deve ultrapassar a China em número de habitantes por volta de 2027. O país asiático e mais oito nações serão responsáveis por metade desse crescimento, sendo elas Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia, Indonésia, Egito e Estados Unidos.

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A população da África Subsaariana está projetada para praticamente dobrar até 2050. "Muitas das populações que mais crescem estão nos países mais pobres, onde o crescimento populacional traz desafios adicionais", disse Liu Zhenmin, Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, em um comunicado. Esses desafios incluem a luta para erradicar a pobreza e combater a fome e a desnutrição; maior igualdade; e melhoria da saúde e educação. O relatório, ele disse, oferece um “roteiro” indicando para onde direcionar ações e intervenções.

Em contraste, o número de habitantes está declinando em muitos países: desde 2010, 27 países ou áreas sofreram quedas populacionais de pelo menos 1%. A previsão é de que nas próximas três décadas um total de 55 países vivenciem o mesmo fenômeno — sendo que pelo menos metade terá decréscimo de no mínimo 10%.

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A diminuição se dá em grande parte pela queda da fertilidade mundial: em 1990 existiam 3,2 nascimentos por mulher em todo o mundo, número que caiu para 2,5 e deve chegar a 2,2 em 2050. Segundo a ONU, o fenômeno pode ser positivo, pois poderia ajudar a aumentar o crescimento econômico, permitindo que os países em desenvolvimento investissem mais em educação e saúde.

Além disso, a migração se tornou um fator importante no declínio populacional de certos países, por conta da demanda de trabalhadores em outras nações. A violência, os conflitos armados e a insegurança de alguns lugares também geraram diminuição no número de moradores em países como a Síria, por exemplo.

Na maioria dos países, a proporção de pessoas com mais de 65 anos também será alta. De acordo com o novo relatório, até 2050 uma em cada seis pessoas se encaixará nessa faixa etária — hoje esse número é de um em 11. Algumas partes do mundo, como o norte da África, a América Latina e a Ásia, podem ver duplicar o número de idosos nos próximos 30 anos.

“Em 2018, pela primeira vez na história, pessoas com 65 anos ou mais superaram crianças menores de cinco anos”, descreveu a ONU. “Projeções indicam que em 2050 haverá mais do que o dobro de pessoas com mais de 65 anos do que crianças menores de cinco anos.”

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Data: 18 de junho de 2019

[EcoDebate] A Divisão de População da ONU disponibilizou, no dia 17 de junho de 2019, as novas projeções populacionais para todos os países, para as regiões e para o total mundial. A população mundial para 2019 foi estimada em 7,70 bilhões, devendo chegar a 7,79 bilhões em 2020 e a 8 bilhões de habitantes em 2023.

Em decorrência das incertezas sobre o futuro, as projeções são apresentadas em três cenários, conforme mostra o gráfico abaixo. A revisão 2019 indica, no cenário de projeção alta, uma população de 15,6 bilhões de habitantes no mundo em 2100 (a revisão 2017 projetava um número de 16,52 bilhões). No cenário de projeção média, a população global seria de 10,87 bilhões de habitantes em 2100 (a revisão 2017 projetava um número de 11,18 bilhões). E no cenário de projeção baixa, o número ficaria em 7,32 bilhões de habitantes em 2100 (a revisão 2017 projetava 7,28 bilhões). Na projeção média – a mais provável de ocorrer – o número da revisão 2019 é 300 milhões menor do que o da projeção da revisão anterior, divulgada em 2017.

O crescimento populacional anual que está em 1,1% ao ano, no quinquênio 2015-20 vai se desacelerar ao longo do século e, na projeção média, deve ficar em 0,4% ao ano no quinquênio 2095-2100. Ou seja, a estabilização da população mundial só deve ocorrer no século XXII.

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A tabela abaixo apresenta as estimativas da população mundial em 1950, 2000 e 2020 e a projeção média para 2050 e 2100 para o mundo e para os continentes, além da comparação com os dados da projeção média da revisão 2017 para o ano de 2100. Nota-se que a população mundial, mesmo com uma estimativa 300 milhões de habitantes mais baixa, deve crescer 4,3 vezes entre 1950 e 2100 (de 2,5 bilhões em 1950 para 10,9 bilhões em 2100).

A redução do total populacional – na projeção média atual (2019) em relação à projeção anterior (2017) – ocorreu em todos os continentes, com exceção da Oceania que apresentou um ligeiro aumento. Para a África a projeção atual para 2100 é de 4,28 bilhões de habitantes (era de 4,48 na revisão 2017). Para a África Subsaariana a projeção atual é de 3,76 bilhões em 2100 (era de 4 bilhões na projeção anterior). Para a Ásia a projeção atual é de 4,72 bilhões em 2100 (era de 4,78 anteriormente). Para a Europa o número para 2100 é de 629 milhões (era de 653 milhões). Para a América Latina e Caribe (ALC) a projeção da revisão 2019 indica um número de 680 milhões de habitantes em 2100 (contra 712 milhões na projeção 2017). Para a América do Norte o novo número é de 491 milhões em 2100 (contra 499 milhões anteriormente). E por fim, a nova projeção indica 74,9 milhões de habitantes na Oceania em 2100 (era de 71,8 milhões na projeção 2017).

Portanto, a maior queda entre a projeção 2019 e a projeção 2017 ocorreu na África Subsaariana, com uma redução de 225 milhões de habitantes na estimativa de 2100. Mesmo assim, o crescimento da população da África Subsaariana passou de 179 milhões, em 1950, para 640 milhões em 2000 e deve crescer 6 vezes durante o século XXI. A Ásia deve continuar sendo o continente mais populoso. A ALC deve ficar com população abaixo de 700 milhões, mas superior à população europeia em 2100.

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A tabela abaixo apresenta os 20 países mais populosos do mundo em 2020 e os 20 mais populosos em 2100, além de comparar as projeções para 2100 das duas últimas projeções da Divisão de População da ONU. Nota-se, que os dois países mais populosos do mundo continuarão a ser a China e a Índia, mas com uma inversão, pois a população indiana deve ultrapassar a população chinesa em 2027. Porém, a projeção da população da China em 2100, na revisão 2019 (de 1,06 bilhão) é maior do que na revisão 2017 (de 1,02 bilhão), enquanto da Índia a revisão 2019 indica 1,45 bilhão contra 1,52 bilhão da revisão 2017.

O terceiro país mais populoso em 2020 é aquele que se destaca na economia mundial (EUA) com 331 milhões de habitantes, mas será superado pela Nigéria ao longo do século XXI. Segundo a revisão 2019, os EUA terão 434 milhões de habitantes em 2100 (contra 447 milhões na revisão 2017) e a Nigéria terá 733 milhões de habitantes em 2100 (contra 794 milhões na revisão 2017).

A Indonésia é o quarto país mais populoso em 2020, mas deve cair para o sétimo lugar em 2100, embora terá a população aumentada de 274 milhões em 2020 para 321 milhões em 2100. O Brasil que era o 5º país mais populoso desde o fim da Segunda Guerra, foi ultrapassado pelo Paquistão em 2017 e deve ficar em 12º lugar no final do século. Em 2020, o Paquistão terá 221 milhões de deve atingir 403 milhões em 2100 (na revisão 2017 a estimativa era de 379 milhões). O Brasil terá 213 milhões de habitantes em 2020 e 181 milhões em 2100 (era de 190 milhões na revisão 2017).

Entre aqueles que vão perder maiores posições entre os 20 maiores países em termos demográficos, estão Rússia (de 9º para 19º lugar), México (10º para 17º lugar) e Vietnã, Turquia, Irã, Alemanha e Tailândia que vão sair do grupo dos países mais populosos. Entre os países que vão dar o maior salto demográfico estão República Demográfica do Congo (do 16º lugar para 6º lugar), Egito (do 14º lugar para 10º lugar) e a Etiópia (do 12º para 8º lugar).

Angola que tinha apenas 4,5 milhões de habitantes em 1950 e que atingiu 16,4 milhões no ano 2000, deve alcançar 188 milhões de habitantes em 2100, ficando em 11º lugar, na frente do Brasil no final do século. Outros países que vão aparecer na lista dos mais populosos são Níger, Sudão, Uganda e Quênia.

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A Divisão de População da ONU tem feito, desde 2012, projeções periódicas da população mundial com cenários até 2100. Evidentemente, as projeções variam segundo os parâmetros que vão sendo atualizados em cada país. A tabela abaixo mostra a projeção da população mundial para o final do século XXI, segundo as últimas quatro revisões. Nota-se que a diferença entre a maior projeção e a menor é de apenas 360 milhões de pessoas, ou 3% do total estimado.

 

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Recentemente, dois jornalistas canadenses Darrell Bricker e John Ibbitson lançaram o livro “Empty Planet: The Shock of Global Population Decline” (2019), contestando as previsões da Divisão de População da ONU. Os dois autores, que não são demógrafos, apostam em um cenário de projeção com um pico populacional abaixo dos 9 bilhões de habitantes em meados do atual século e um rápido declínio nas décadas seguintes.

O fato é que as novas projeções da Divisão de População da ONU reafirmam, com os indicadores atuais, que a população mundial deve ficar próxima de 11 bilhões de habitantes no final do século XXI. Como afirmei em outro artigo, “o livro Empty Planet faz um terrorismo com a possibilidade de um decrescimento da população e assume uma postura pronatalista antropocêntrica e ecocida. Os autores reforçam o mito sobre a possibilidade de um crescimento populacional e econômico ilimitado (“Growthism”). Todavia, mais crescimento quantitativo tem gerado menos qualidade de vida ambiental e pode levar a um colapso ecológico”.

Também Aidar Turner, no texto “Two Cheers for Population Decline”, publicado no Project Syndicate (29/01/2019), critica o alarmismo do livro “Empty Planet” e diz: “Um eventual declínio gradual da população, desde que resulte da livre escolha, deve ser bem-vindo. Por outro lado, líderes autoritários e chauvinistas, como o presidente russo, Vladimir Putin, o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, ou o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, veem o crescimento da população como um imperativo nacional e a alta fecundidade como dever feminino. E mesmo muitos comentaristas não-chauvinistas assumem que há algo não natural ou insustentável no declínio da população, que sociedades envelhecidas devem inevitavelmente ser menos dinâmicas e que a imigração em grande escala é a resposta essencial ao declínio demográfico”.

Indubitavelmente, o futuro está aberto e as próprias projeções da Divisão de População da ONU apresentam 3 cenários para a população mundial em 2100: 15,6 bilhões de habitantes na variante alta, 10,9 bilhões na variante média e 7,32 bilhões de pessoas na variante baixa. Pelos conhecimentos atuais o mais provável é a variante média. Ou seja, o mundo deve acrescentar 3 bilhões de habitantes nos próximos 80 anos. Garantir qualidade de vida para todo este montante de pessoas é um grande desafio.

Mas o desafio maior será garantir a sustentabilidade ambiental e evitar que a Pegada Ecológica global continue aumentando e a biocapacidade continue diminuindo. Principalmente, no quadro do crescimento demoeconômico internacional, a grande tarefa é evitar a aceleração do aquecimento global e a 6ª extinção em massa das espécies, as duas fronteiras planetárias que podem levar a vida no Sistema Terra ao colapso.

José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia