O envelhecimento da população brasileira como lidar com essa realidade

Em 2019, o número de idosos no Brasil chegou a 32,9 milhões. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a tendência de envelhecimento da população vem se mantendo e o número de pessoas com mais de 60 anos no país já é superior ao de crianças com até 9 anos de idade.

Os 7,5 milhões de novos idosos que ganhamos de 2012 a 2019 representam um aumento de 29,5% neste grupo etário.

Recentemente, o IBGE divulgou uma série de projeções de longo prazo sobre o avanço populacional no Brasil.

Uma delas aponta para uma desaceleração no ritmo de crescimento e uma consequente inversão na nossa pirâmide etária.

O envelhecimento da população brasileira como lidar com essa realidade

Segundo as estimativas do instituto, a população brasileira deve crescer até 2047, quando atingirá 233,2 milhões de pessoas.

O envelhecimento da população brasileira como lidar com essa realidade

Nos anos seguintes esse número deve ir caindo gradualmente, até chegar a 228,3 milhões em 2060.

Nesse cenário, a expectativa é de que o número de pessoas com 65 anos ou mais praticamente triplique, chegando a 58,2 milhões em 2060 – o equivalente a 25,5% da população.

Em 2018, essa proporção é de 9,2%, com 19,2 milhões de idosos.

Outro dado importante nas projeções do IBGE vem reforçar a tendência de envelhecimento da população brasileira: a população de crianças de até 14 anos, que hoje representa 21% do total de habitantes, será de apenas 15% em 2060.

Envelhecimento da população nos estados

A proporção de jovens entre os brasileiros está em queda na maior parte do território nacional, mas os dados do IBGE indicam que os estados das regiões Sul e Sudeste serão os primeiros a sentir os efeitos do envelhecimento da população.

Segundo a projeção do instituto, a pirâmide etária deve se inverter pela primeira vez no Rio Grande do Sul. Em 2019 o estado já deverá ter uma proporção maior de idosos em relação às crianças.

E nos quatros anos seguintes será a vez de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Para se ter uma ideia, a idade média da população gaúcha é de 35,9 anos, enquanto no Acre (estado mais jovem do país), é de apenas 24,9 anos.

O envelhecimento da população brasileira como lidar com essa realidade

Envelhecimento e medicina preventiva

Antes de abordarmos a importância das ações preventivas nesse futuro cenário de envelhecimento da população, veja o que diz o médico Alexandre Kalache, o mais importante especialista em envelhecimento no país:

Interessante, não é?

Diante de todas essa informações, não resta a menor dúvida de que o envelhecimento populacional deve estar no topo das prioridades dos gestores de saúde no Brasil.

No mercado da saúde suplementar, as operadoras que ainda não despertaram para esta realidade estão colocando em risco não apenas o bem estar futuro dos seus beneficiários, mas também a sustentabilidade financeira do negócio ao longo do tempo.

Priorizar a abordagem preventiva e investir em programas de promoção da saúde direcionados ao público de terceira idade é hoje uma necessidade, muito mais que uma tendência.

Isso envolve desde promover a atividade física entre os idosos até buscar soluções para reduzir o índice de hospitalização entre esse público.

Aliás, as duas coisas devem andar juntas.

Quer saber como começar programas como estes na sua operadora?

Ou então ter ideias para melhorar ainda mais o atendimento prestado este público?

Já ouviu falar das diretrizes do Projeto Idoso Bem Cuidado, da Agência Nacional de Saúde?

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O envelhecimento da população brasileira como lidar com essa realidade

São Paulo

O envelhecimento da população brasileira já é uma realidade, como aponta a última pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar disso, o país não está se preparando para enfrentar as consequências desse fenômeno nas próximas décadas, afirmam especialistas ouvidos pela Folha.

Diante deste cenário, o médico gerontólogo Alexandre Kalache projeta que o Brasil deve pagar um preço muito alto, pois vai acumular pessoas doentes, carentes, com incapacidades e sem saber quem vai cuidar delas.

"Países desenvolvidos primeiro enriqueceram para poder envelhecer. As pessoas serão na velhice o produto de tudo que aconteceu na sua vida antes e nós estamos envelhecendo com pobreza e crescente desigualdade", afirma ele, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

A nova pesquisa do IBGE, divulgada no final de julho, mostra que a proporção de pessoas abaixo de 30 anos recuou de 49,9% da população do país em 2012 para 43,9% em 2021. No período, o número de brasileiros nessa faixa etária baixou de 98,7 milhões para 93,4 milhões. Ou seja, uma queda de 5,4%.

No sentido contrário, a fatia com 30 anos ou mais subiu de 50,1% da população em 2012 para 56,1% em 2021. O grupo pulou de 99,1 milhões para 119,3 milhões no mesmo intervalo. O avanço foi de 20,4%.

Kalache cita ainda que, antes da pandemia, projeções indicavam que o Brasil deveria atingir o pico populacional em meados de 2040. Mas, em decorrência da crise sanitária, isso deve acontecer antes. Com isso, afirma que é necessário que o país já comece a pensar no futuro. E, uma das políticas necessárias é manter as pessoas no mercado de trabalho.

Pesquisador associado do FGV/Ibre e ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto cita que o envelhecimento populacional não é uma questão restrita ao Brasil, e já atingiu países como França e Alemanha, por exemplo.

Segundo ele, ao mesmo tempo que o Brasil apresenta uma longevidade da população, há uma queda na taxa de fertilidade. Dentro deste cenário, se faz necessário atenção para algumas questões visando um melhor futuro da população.

Entre elas, a elaboração de uma política de saúde para essa população, que inclua desde um atendimento diferenciado até projetos de cidades inteligentes, uma vez que as pessoas estarão com a mobilidade reduzida.

Também é preciso investir na educação para os mais jovens. "O mercado hoje exige um trabalhador mais qualificado para lidar com questões mais complexas. Só com o aumento da produtividade é possível manter o crescimento econômico-social, já que teremos menos gente ingressando no mercado de trabalho."

Além disso, é preciso uma política previdenciária que se prepare para um país que terá uma parcela menor da população trabalhando e um aumento do número de aposentados.

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Com 3 milhões de seguidores no TikTok, Coracy Arantes, 79, a Cora, iniciou sua atuação digital no começo de 2019 para se livrar de uma depressão. Ronny Santos/Folhapress/

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Cora mostra como faz sua maquiagem nas redes e publica também imagens em que está de lingerie . Ronny Santos/Folhapress/

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Ela diz que as pessoas mais velhas e também mulheres mais jovem a agradecem por mostrar a forma como aceita seu corpo . Ronny Santos/Folhapress/

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Segundo o especialista em marketing e sociologia Gabriel Rossi, a troca entre gerações nas redes sociais fez o público maduro mudar a forma de viver a vida. Ronny Santos/Folhapress/Ronny Santos/Folhapress

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Marcas que querem atuar no setor, influenciadoras são uma chance de mostrar diversidade e falar com esse público, sem cair em estereótipos. Ronny Santos/Folhapress/

Bibiana Graeff, jurista e professora no curso de gerontologia da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), afirma que Brasil já foi referência em direitos para os idosos, principalmente após a Constituição de 1988 e o Estatuto do Idoso, de 2003. Depois disso, porém, o país estagnou no tema, aponta ela.

Para ela, as questões relacionadas à população idosa não devem ser vistas como algo isolado, mas como todo um retrocesso em questões relacionadas a direitos humanos. "São pessoas muitas vezes vistas como um peso para sociedade que são vistas como se não contribuíssem para a sociedade."

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. João de Macedo Oliveira dança com sua amiga, a advogada Joana Simas, 66. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. João de Macedo Oliveira dança com sua amiga, a advogada Joana Simas, 66. Folhapress/Eduardo Knapp

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Idosos voltam a dançar após a vacinação contra a Covid-19 em bailes da terceira idade; pessoas, na maioria idosos, dançam no baile Terças de Gala do Clube Atlético Ypiranga. João de Macedo Oliveira dança com sua amiga, a advogada Joana Simas, 66. Folhapress/Eduardo Knapp

A advogada Fernanda Zucare, membro da Comissão de Direito Médico da OAB, concorda que o país não está preparado para o envelhecimento e enfrenta desafios, principalmente na área da saúde.

"Temos um SUS (Sistema Único de Saúde) extremamente comprometido e que não comporta bem toda população que nele é atendida", diz ela que ressalta que o país enfrenta um movimento grande de migração do sistema privado para o público, em razão do aumento dos preços dos planos de saúde e do desemprego.

Hoje, um projeto de lei prevê a elevação de 60 para 65 anos a idade de classificação como pessoa idosa. A proposta, em análise na Câmara dos Deputados, tem como autor o deputado Bibo Nunes (PL-RS) que justifica que, quando o Estatuto do Idoso foi sancionado, em 2003, a expectativa de vida era de 71 anos, que aumentou e chegou a 76 anos, em 2017.

A advogada de família e sucessões Maria Stella Torres Costa afirma que a legislação já dá mostras que considerar idoso alguém com 60 anos talvez seja cedo demais.

Já Kalache discorda do projeto e diz que, num país com taxa de desigualdade social tão elevada quanto a do Brasil, rotular como idoso aquele que tem 65 anos significa retirar cinco anos de direitos.

O médico cita quatro pilares necessários para garantir um bom envelhecimento —saúde, conhecimento, capital social e o financeiro. Para ele, porém, faltam políticas públicas voltadas para o futuro nessas áreas no país hoje.

Jovens adultos afirmam que a ansiedade quanto ao futuro é uma questão que já começa a preocupar no âmbito individual. É o caso do advogado Mateus Amaral, 23, que vive em São Paulo.

"Hoje sou CLT e isso é de uma certa forma um alívio, pois posso ser uma das últimas gerações com aposentadoria garantida", diz ele. Sobre a saúde, ele diz que um de seus objetivos é ter recursos financeiros para não depender do SUS, pois enxerga que o sistema pode não dar conta de toda a demanda.

"Me vejo refém do plano privado do plano de saúde e, ao mesmo tempo, me assusta a forma como os eles criam tarifas absurdas, que se beneficiam da precarização do sistema público", diz ele que classifica que praticar esportes e manter uma boa alimentação é uma espécie de "previdência de hábito".

Amaral enxerga com certo otimismo o envelhecimento em cidades menores, que podem proporcionar melhores estruturas aos cidadãos. Foi o que fez Bárbara Malavoglia, 33 anos, professora de dança e ioga que decidiu sair de São Paulo e hoje vive na zona rural de Itamonte, cidade de Minas Gerais.

A mudança que aconteceu em meio à pandemia foi um movimento que ela não relaciona diretamente ao envelhecimento, mas para a vitalidade. "O modo de vida na capital é desgastante e o trabalho online me permitiu essa mudança para estar em um lugar em que tenho tempo. Aqui, eu consigo me permitir descansar."