Como se justifica o título da obra morte e vida severina

Individuo nascido em território nordestino ou descendente de pessoas provindas dessas áreas. Severino, você é muito severino!

O que significa a expressão morte severina?

Uma vida e uma morte Severina é uma expressão que que denota uma vida e morte sofridas, basta considerar que Severino é um apelido genérico dado aos retirantes nordestinos.

O que é a vida severina?

Severina: Pessoa determinada, rígida e categórica. Não é dada a melindres nem a doçuras. O nome Severina é a versão feminina de Severino, cuja origem vem da família romana Severinus, derivado do latim “Severus” que significa “popa” que faz referência algo “rigoroso” ou que se mantém “rígido”.

Como se escreve a palavra Severino?

Severino: Significa “pouco severo”, “pouco duro”. É o diminutivo do nome Severo, que tem origem no latim severus, que quer dizer literalmente “severo”. Inicialmente empregado como nome de família, é muito popular na Itália.

Por que todo Severino e Bio?

A partir daí, teria havido o “truncamento”, quando parte da palavra é suprimida (como quando Sebastião vira Tião). Trocando em miúdos todo esse desvio fonético: primeiro Severino teria virado Sivirinu (ou Sibirinu). Daí, começou a ser reduzido para “Birinu”, daí para “Biriu” e, finalmente, para “Biu”, oxe.

Qual a mensagem do poema Morte e Vida Severina?

A temática central do poema não é a seca, mas, sim, a morte e a vida. Tanto que esse tema continua perseguindo Severino no mangue. A) O fato em Morte e Vida Severina que comprova o subtítulo “auto de Natal” do poema-peça é o nascimento de um menino.

Qual apelido de Severina?

Por que, no Nordeste, quem é chamado Severino recebe o apelido de Biu? Só um longo encadeamento de fenômenos linguísticos pode explicar essa: o primeiro seria a “elevação vocálica”, em que o “e” ganha som de “i” e o “o” é pronunciado como “u”. Nesse caso, Severino se pronunciaria “Sivirinu”.

Como se justifica o título da obra Morte e Vida Severina?

O título da obra faz referência ao sofrimento que Severino passa durante a viagem, relatada através de um poema dramático que fez de João Cabral de Melo Neto um dos poetas mais prestigiados da Literatura Brasileira e em sua viagem Severino se depara com situações de morte, de desespero, de miséria e fome, causadas ...

Morte e Vida Severina (Auto de Natal pernambucano) é um poema dramático escrito por João Cabral de Melo Neto publicado em 1955.

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É um dos poemas mais longos da literatura brasileira e traz, de uma maneira crua e, ainda assim, emocionante a trajetória de um retirante nordestino para fugir da seca e da morte.

Resumo

Como se justifica o título da obra morte e vida severina
Christine Oliveira

O poema se inicia com a apresentação do herói Severino, que conta sua trajetória pelas margens do rio Capibaribe até a capital pernambucana, Recife, a fim de alcançar uma vida melhor.

Num primeiro momento, o herói encontra dois homens carregando um defunto, chamado Severino, que teria sido morto a tiros por causa de terra.

Mais adiante, se depara com um grupo de pessoas rezando em torno de um morto, também de nome Severino. Seguindo seu trajeto, ele encontra uma senhora, dona de uma casa boa e aparentemente abastada.

Com ela, Severino tenta algum trabalho como lavrador. Entretanto, a única profissão que tem futuro naquela região é a que lida com a morte.

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À medida que Severino vai encurtando a distância do litoral, ele percebe que a vegetação aumenta e que a terra é mais fofa. Contudo, a morte ainda marca presença. No caminho, encontra um cemitério onde acontece o funeral de um lavrador.

O rio retorna à vida; as árvores crescem e florescem; as folhas caem mais livres. É assim que o cenário vai se apresentando conforme Severino se aproxima de Recife.

Chegando na capital, ele escuta a conversa de dois coveiros. Percebe, então, que embora a temática da morte pela seca não exista mais, agora, a morte ocorre de outras formas. No mangue, para os retirantes que sofrem com inundações, miséria e marginalização, muitas vezes o suicídio é a única saída.

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É aí que Severino se dá conta de que, como os outros retirantes do sertão que percorreram a mesma trajetória, a vida não abrandaria na capital. No cais, o lavrador cogita tirar a própria vida.

Conhece nesse momento José, trabalhador do mangue, e com ele conversa sobre a pobreza na capital e no sertão e sobre a morte e também sobre a vida.

A conversa é interrompida por uma mulher que comunica o nascimento do filho de José. Os vizinhos trazem presentes singelos para a nova vida que começa. Duas ciganas fazem previsões sobre o futuro do menino: trabalhador, no mangue ou na indústria e autor de uma vida simples.

Depois das previsões, os vizinhos começam a falar do menino recém-nascido: pequeno, magro, mas saudável – pronto para enfrentar o trabalho e seu destino.

E é assim que termina o percurso de Severino: antes tão cercado pela morte, agora o que o cerca é a vida severina.

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Agora, para perceber o que este poema representa nas entrelinhas, é preciso destrinchá-lo para uma análise mais profunda.

Forma

A obra tem como subtítulo “Auto de Natal pernambucano”. Um auto é um subgênero da literatura dramática que surgiu na Espanha medieval.

Era uma forma frequentemente usada na Idade Média pelo clero com a finalidade de doutrinação e evangelização. Já que a intenção era, justamente, encaminhar as mensagens da Igreja às grandes massas, os autos medievais tinham caráter popular, linguagem mais objetiva e presença de cantos.

Em Morte e Vida Severina, a temática da religiosidade aparece no final, com o nascimento do filho de José, clara referência ao nascimento de Jesus – quando os cristãos comemoram o Natal.

Além disso, a forma da obra de João Cabral de Melo Neto faz alusão à forma dos antigos autos: divisão por partes, cada uma com uma breve apresentação do seu conteúdo; predominam as redondilhas maiores, versos com sete sílabas poéticas.

Afinal, quem é Severino?

Severino, nessa obra, não é apenas um nome. No título, o nome próprio ganha função de adjetivo e traz uma qualidade para a morte e para a vida.

No decorrer do poema, Severino é o nome de todos os retirantes que buscam uma vida mais branda na capital. Também é aquele que não consegue alcançar esse objetivo e é abraçado pela morte no meio do caminho.

Severino lavrador, finado Severino, Severinos de Maria. Essa universalização do nome induz o leitor a compreender que todos são os mesmos trabalhadores em busca da mesma vida e rodeados pelas mesmas dificuldades.

O próprio herói aborda isso no começo do poema, ao se apresentar com “Somos muitos Severinos,/iguais em tudo na vida”.

A palavra severina também pode fazer alusão ao adjetivo “severa”, ou seja, rígida, dura, exigente.

Morte Severina

A presença da morte persegue Severino em sua jornada. Desde a primeira parte, ele se apresenta explicando o que é a morte Severina: “a morte de que se morre/de velhice antes dos trinta,/de emboscada antes dos vinte/de fome um pouco por dia”.

A morte, na obra, pode ser “morrida” e “matada”. Morrida de fome ou de doença, matada de emboscada. Inclusive, o defunto que Severino encontra na segunda parte da obra morreu a tiros, por disputa de terras.

A morte é tão presente que ela rende frutos. As profissões que mais trazem riquezas são aquelas rodeadas por ela. Os funerais são muitos no sertão, mas o cenário não muda na capital.

É assim que a morte vem antes da vida na obra-prima de João Cabral de Melo Neto. Para muitos retirantes que circulam pela obra, a morte pode ser a maior riqueza.

Vida Severina

Com o nascimento do filho de José, nos momentos finais do auto, surge a grande epifania da obra. Sempre fugindo da morte, Severino descobre que ela, na verdade, sempre estará lá.

O que resta é viver essa vida, também Severina, dura, rígida, exigente da mesma forma que era no sertão, mas de maneiras diferentes. Quem antes fugia da seca e das balas, agora foge da miséria e da vontade de “saltar da ponte e da vida”.

Assim, com o nascimento – com o primeiro respiro de um menino na vida Severina – o poema termina com uma dose singela de otimismo.

Impacto social

Por trás de toda a beleza da obra, é muito clara a denúncia que ela carrega nos versos.

Primeiramente, a questão agrária é presente desde o começo. Seca, disputa por terras, falta de oportunidades em terras inférteis, fome… Essa denúncia também é extremamente evidente no funeral de um lavrador.

Nessa parte, os amigos do finado bradam os seguintes versos:

“Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida. — É de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio. — Não é cova grande. é cova medida, é a terra que querias ver dividida. — É uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo. — É uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo te sentirás largo. — É uma cova grande para tua carne pouca, mas a terra dada

não se abre a boca.

Nesse trecho, percebe-se que a cova em que um defunto é enterrado é a sua maior e melhor porção de terra. É onde ele se encontrará mais “ancho”, ou seja, mais largo e abastado. Ainda, é uma terrada dada, uma recompensa. Diante de tudo o que lhe fora negado em vida, não é permitido que o defunto reclame.

É preciso contentar-se com o pouco, adequar-se aos empecilhos e às mazelas que a terra traz à tona. Lavra-se pedra, planta-se a morte e, quando ela chega, aceita-se finalmente a terra dada, sua cova.

Para além disso, a miséria, de bens e de espírito, é outro fator denunciado nessa grande obra. No mangue, onde a vida poderia abrandar, as pessoas trabalham por migalhas e se rendem ao suicídio.

A pobreza material é notável na alusão ao nascimento de Jesus, que na obra é representado pelo filho do trabalhador José. Em vez do ouro, do incenso e da mirra, presentes dados ao recém-nascido na história bíblica, o bebê de Morte e Vida Severina recebe dos vizinhos presentes singelos e símbolos de uma vida difícil e miserável.

Caranguejos para se alimentar, jornal para se cobrir, água, boneco de barro, cajus, mangas… todos introduzidos pelos vizinhos com a frase “Minha pobreza tal é”.

Celebra-se uma vida em meio a tanta morte com o pouco que se tem, e é esse o último e também o primeiro suspiro de esperança.

Entenda mais sobre a obra

Como todo poema, Morte e Vida Severina permite interpretações riquíssimas com detalhes diferentes para cada leitor. Vamos ver alguns exemplos?

Resumo e interpretação


O canal Palavrão preparou esse vídeo que explica direitinho a trajetória de Severino até a capital e traz detalhes importantes da obra.

Detalhes que permeiam a obra


Nesse vídeo, você vai conhecer pequenos detalhes que extrapolam a obra, desde a relação com a história bíblica até a trajetória do autor.

Comentários e citações


Veja alguns comentários sobre essa grande obra de João Cabral de Melo Neto para ampliar as possibilidades de leitura.

Mas não se esqueça: o importante mesmo é que você recolha os detalhes dessa obra riquíssima e chegue às suas próprias conclusões – o poema dá muito espaço pra isso!

Sobre o autor

Como se justifica o título da obra morte e vida severina
Posse de João Cabral de Melo Neto na Academia Brasileira de Letras (1969)

Poeta, diplomata e engenheiro, João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife em 9 de janeiro de 1920. Sua obra permeia o regionalismo e trata de assuntos recorrentes na vida do nordestino da época.

De maneira objetiva, crua, simples e comunicativa, seus poemas o consagraram na Academia Brasileira de Letras em 1969 e renderam alguns prêmios, como o Neustadt e o Camões.

Parte da famosa Geração de 45 da fase modernista, juntamente com autores como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto defendia uma poesia que valorizasse a forma literária e a arte da palavra, cada vez mais objetiva e autora de denúncias.

O poeta foi acusado de comunista em 1952, quando o PCdoB estava ainda na ilegalidade, tendo que depor ao Supremo Tribunal Federal. A acusação alegava que João Cabral criara uma “célula comunista” no Ministério das Relações Exteriores. Em 1954, o poeta recorreu da acusação.

João Cabral de Melo Neto faleceu em 9 de outubro de 1999, aos 79 anos.

Filme e outras adaptações

Por ser um poema tão rico em detalhes, algumas adaptações foram produzidas. Seja em forma de filme, animação ou até música, a trajetória de Severino já é conhecida por muitos brasileiros.

Filme – Morte e Vida Severina


Lançado em 1977 e dirigido por Zelito Viana, esse filme ilustra com bastante fidelidade a história de Severino, que é interpretado por José Dumont.

Animação


Essa animação incrível traz o poema completo rodeado de muitos detalhes visuais que, às vezes, não reparamos na primeira leitura. Vale muito a pena.

Funeral de um Lavrador – Chico Buarque


Essa música de Chicho Buarque faz parte de um álbum chamado Morte e Vida Severina. O cantor, junto com o próprio João Cabral de Melo Neto, musicalizaram o poema para o filme de Zelito Viana. O vídeo acima foi feito com imagens que denunciam a questão agrária no Brasil.

Vale a pena conhecer o álbum completo de Chico Buarque. As partes mais importantes da obra foram musicalizadas sem que se perdesse a essência do poema.

Versos e frases marcantes

Vamos ler alguns versos dessa grande obra?

O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar

Severino de Maria;

Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue,

que usamos tem pouca tinta.

Pensei que seguindo o rio eu jamais me perderia: ele é o caminho mais certo, de todos o melhor guia. Mas como segui-lo agora que interrompeu a descida? Vejo que o Capibaribe, como os rios lá de cima, é tão pobre que nem sempre pode cumprir sua sina e no verão também corta,

com pernas que não caminham.

Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte

foi de vida Severina.

E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco

em nova vida explodida;

Agora que você já leu alguns trechos desse poema forte e incrível, que tal ler a obra completa para conhecer a fundo a história dos Severinos brasileiros?

Referências

BARRETO, Antonio et al. Para ler o mundo: Língua, literatura e produção de textos. Vol. único. São Paulo: Scipione, 2006.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

PASCOLATI, Sonia. Operadores de leitura do texto dramático. In: BONNICI, Thomas e ZOLIN, Lúcia (Orgs). Teoria Literária – Abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3ª ed. Maringá: Eduem, 2009. cap.4, p.93-112.