Muitas pessoas acreditam que a transmissão da doença de chagas se dá pela picada do Barbeiro, um tipo de inseto que tem hábitos noturnos e costuma se abrigar em frestas e pequenos buracos dentro das residências, além de poder ser encontrado também em ninhos de pássaros, embaixo de pedras e em cascas de árvores. Show Na verdade, o protozoário que causa a doença é eliminado pelo Barbeiro em suas fezes. Quando a pessoa que leva uma picada do inseto coça esse local, pode levar as fezes eliminadas pelo inseto para a região da ferida. Assim, o protozoário acaba entrando na corrente sanguínea da pessoa, causando a doença de chagas. O ciclo da doença de chagas acontece por meio do Barbeiro, que fica contaminado com o protozoário ao picar algum animal que tenha a doença. Ele é o único transmissor da doença de chagas para o ser humano. Outras formas de transmissão da doença de chagas incluem a infecção de mãe para filho, durante a gravidez, e a transmissão que acontece por meio do compartilhamento de agulhas contaminadas. Já foram registrados casos de doença de chagas transmitida pela via oral, em pacientes que tomaram caldo de cana ou açaí que havia sido contaminado pelas fezes do Barbeiro. Isso é mais comum nas zonas onde a doença de chagas é endêmica. Doença de Chagas (DC) ou Tripanossomíase Americana é uma infecção parasitária, antropozoonose, causada pelo protozoário flagelado Trypanosoma cruzi e transmitida pelo triatomíneo, popularmente conhecido como bicho-barbeiro. A doença apresenta curso clínico bifásico, aguda e crônica, sendo que a fase aguda, muitas vezes sem sintomas, pode evoluir para fase crônica. A gravidade dos casos pode estar relacionada à cepa infectante, a via de transmissão e também a associação com outras patologias concomitantes. A DC é reconhecida há mais de um século e acomete, principalmente, populações negligenciadas, sendo considerada uma das enfermidades de maior impacto global com estimativa, aproximadamente, de infecção de 6 milhões de pessoas, com incidência de 30 mil casos novos por ano, 14.000 mortes/ano e 8.000 recém-nascidos infectados durante a gestação. É uma doença de característica de países subdesenvolvidos, sendo endêmica de 21 países das Américas. A infecção pode ocorrer pela transmissão vetorial, oral, transfusional, transplantar, vertical (ou congênita) e acidental. Atualmente existem grandes preocupações pela transmissão oral, principalmente na região Norte do Brasil, área mais afetada. Já a transmissão vetorial está envolvida com o contágio da pele e mucosas por meio das fezes e urina contaminadas dos insetos hematófagos da subfamília Triatominae. Diante da possibilidade de infecção, a pessoa deverá procurar a Unidade Básica de Saúde imediatamente. No caso da possibilidade de transmissão vetorial, caso a pessoa consiga capturar o barbeiro, este também deverá ser levado no ato da consulta, para análise laboratorial. Isto é importante porque devem ser realizadas ações no local, e análise da possibilidade da aplicação de inseticidas. Agente EtiológicoÉ o protozoário flagelado Trypanosoma cruzi. No sangue de vertebrados, apresenta-se na forma infectante tripomastigota e, nos tecidos, na forma amastigota. Já nos insetos, ocorrem várias maturações, destacando-se a forma infectante, que são as formas encontrada nas fezes e urina do inseto. Figura 1. Formas do Trypanosoma cruzi em hospedeiros vertebrados: (A) tripomastigota (forma sanguínea); (B) amastigota (forma em células musculares). Fonte: Adaptado de Doença de Chagas e seus principais vetores no Brasil. FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2008.VetoresOs vetores são triatomíneos (insetos) popularmente conhecidos como bicho-barbeiros. Alguns fatores determinam e condicionam a ocorrência e prevalência de triatomíneos no ambiente humano, como a forma com que a população humana ocupa e explora o ambiente. Assim, relevantes questões são apresentadas, como: migração, degradação do ambiente e condições socioeconômicas (habitações em condições precárias ou perto de matas). Portanto, a colaboração da população é essencial na procura e identificação do barbeiro, devendo o proprietário colaborar na ação de combate ao vetor. Maior risco de transmissão:
Estágios evolutivos do vetor (triatomíneos):
Ciclo de vida de triatomíneos. Fonte: Doença de Chagas e seus principais vetores no Brasil. FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2008. A importância do registro, das espécies encontradas, está relacionada com a presença de espécies com potencial de colonização e altas taxas de infecção natural.
Triatoma infestans
Tamanho de 21 a 29 mm; domiciliado; ainda possui pequenos focos residuais no Rio Grande do Sul e Bahia; Risco de reintrodução da espécie no Paraná. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014.
Panstrongylus megistus
Tamanho de 26 a 38 mm; possui potencial para domiciliação; presente em peridomicílios e na área silvestre. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma brasiliensis
Tamanho de 22 a 25,5 mm; domicílio, peridomicílio e silvestre. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma maculata
Tamanho de 16,5 a 22 mm; silvestre (ocos de árvores, ninhos, palmeiras); frequentemente em peridomicílio e eventualmente em domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma pseudomaculata
Tamanho de 17 a 20 mm; silvestre (casca de árvores, refúgios de roedores e marsupiais); peridomicílio (currais, galinheiros) e ocasionalmente em domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma rubrovaria
Tamanho de 21 a 25 mm; silvestre (entre pedras) de peridomicílio e domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma sordida
Tamanho de 14 a 20 mm; silvestre, peridomicílio (galinheiros) e domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014.
Triatoma tibiamaculata
Tamanho de 29 a 33 mm; silvestre (refúgios e ninhos de marsupiais). Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Triatoma vitticeps
Tamanho de 27,5 a 38 mm; silvestre (refúgio de marsupiais e roedores); peridomicílio (galinheiros, estábulos e currais) e domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2015. Panstrongylus geniculatus
Tamanho de 17,5 a 20,5 mm; predominantemente silvestre (palmeiras e ninhos), peridomicílio e domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Panstrongylus lutzi
Tamanho de 24 a 29 mm; silvestre (tocas de tatus, rochas habitadas por mocós); peridomicílio (galinheiros) e domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Rhodnius neglectus
Tamanho de 22 a 29,5 mm; silvestre (refúgios de marsupiais, morcegos e roedores; palmeiras; troncos e casca de árvores). Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Rhodnius pictipes
Tamanho de 18 a 22 mm; silvestre (palmeiras e bromélias) e domicílio (invasor). Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Rhodnius robustus
Tamanho de 20 a 26 mm; silvestre (palmeiras), peridomicílio e eventualmente em domicílio. Fonte: Adaptado de FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz, 2014. Existe registro de triatomíneos em todas as regiões do Brasil. No ano de 2014 à 2018, 1.724 municípios registraram o inseto no intradomicílio; dentre as principais espécies, destacamos a Triatoma pseudomaculata: em 598 municípios; Triatoma sordida: em 524 municípios; e Triatoma brasiliensis, em 456 municípios. Já no peridomicílio, foram encontrados 1.440 municípios com o registro de triatomíneos, a maioria desses com Triatoma sordida (523 municípios), Triatoma pseudomaculata (500 municípios) e Triatoma brasiliensis (424 municípios). Como coletar amostras para IdentificaçãoPara análise de um triatomíneo, transmissor da doença de Chagas, leve-o para um Posto de Informação de Triatomíneo (PIT), mais próximo de seu município, provavelmente localizado em uma UBS ou na Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde do município. Antes de pegar o animal, proteja suas mãos, usando um saco plástico. Coloque o inseto em um saco plástico ou em um pote e lacre-o, para impedir a saída do inseto. Modo de captura para triatomíneos. Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde.A identificação será realizada pelo município, que entrará em contato com o coletor, para informar se o inseto entregue é ou não um barbeiro (triatomíneo); caso seja, deverá ser realizada uma busca ativa no local para averiguar a presença de mais exemplares no local, este processo deve ser acompanhado por técnicos da Vigilância Ambiental do município. Reservatórios e HospedeirosO Trypanosoma cruzi é um protozoário que tem seu ciclo de vida em hospedeiros vertebrados (mamíferos) e invertebrados (triatomíneos). O protozoário apresenta duas principais formas evolutivas diferentes, tanto no homem quanto no vetor (bicho-barbeiro): amastigota e tripomastigota. Os reservatórios são os animais infectados, que apresentam o T. cruzi na circulação sanguínea e na musculatura dos órgãos. Esses podem ser encontrados em área silvestre (região de mata), intradomicílio (dentro da residência) e peridomicílio - próximo às residências (Ex: gambá, tatu, cães, gatos, macaco, preguiça, rato, entre outros). Curiosidades: Répteis e aves não são considerados reservatórios, uma vez que T. cruzi não sobrevive nesses animais. Modo de TransmissãoHá diversas formas de transmissão, dentre elas, podemos citar:
Período de TransmissibilidadeA maioria dos indivíduos infectados com T. cruzi permanecem com o parasito nos tecidos, órgãos e no sangue durante toda a vida. Período de IncubaçãoO período de incubação, ou seja, o tempo que os sintomas vão começar a aparecer a partir da infecção, irá depender do modo de transmissão.
Aspectos ClínicosA doença se diferencia em duas fases bem distintas: aguda e crônica. Após a picada (4 a 10 dias), a pessoa pode apresentar sintomas gerais, como: febre, mal-estar e falta de apetite. Somado a esses, podem, também, aparecer uma leve inflamação no local da picada (chagoma); aumento dos gânglios (ínguas); aumento do baço e do fígado, os sinais podem ser representados clinicamente em endurecimento regional no abdômen e dor abdominal; ainda, algumas pessoas podem desenvolver formas graves cardíacas. Como alguns barbeiros têm preferência pela região dos olhos, uma lesão inflamatória foi descrita como Sinal de Romaña, mas não é comum ser identificada. Na fase aguda, a doença é passível de tratamento. Entretanto, a dificuldade reside no fato dela passar despercebida. Encerrada a fase aguda, caso não ocorra cura, os pacientes podem desenvolver a doença crônica, ensejando complicações cardíacas (insuficiência cardíaca) e/ou digestivas, como megacólon e megaesôfago. A fase crônica é definida em três etapas:
Existe, ainda, uma forma associada, que se comporta com a combinação das duas últimas descritas (cardíaca e digestiva). DiagnósticoQuanto mais cedo for feito o diagnóstico, aumenta-se o sucesso do tratamento. Toda a rotina do diagnóstico (parasitológico e sorológico) é de conhecimento da Unidade de Atendimento. Recomenda-se realizar diagnóstico de pessoas assintomáticas, nos seguintes casos:
TratamentoA medicação é fornecida gratuitamente pelo SUS, dentro de protocolos estabelecidos pelo Ministério de Saúde e Sociedades Médicas. Medidas PreventivasA prevenção está relacionada a forma de transmissão do T. cruzi. Dentre elas, destacam-se:
Além disso, para todas as formas de transmissão, a realização de educação em saúde para população e fortalecimento da participação social são também importantes formas de prevenção. DocumentosBoletim Epidemiológico 2020
LegislaçãoFichas, Formulários e PlanilhasMaterialLinks |