Por que a africa e tao pobre

Por que a africa e tao pobre
Abundante em riquezas como petróleo, diamantes, gás natural e agora o tão cobiçado óleo de palma, África tem sido pasto da exploração mais abjeta por multinacionais e também por regimes abusivos que fazem todo o tipo de negócios à custa dos povos, relegados à mais profunda miséria em alguns países.

No norte de Moçambique, em Cabo Delgado, região abundante em gás natural, houve comunidades deslocadas e espoliadas dos seus direitos à terra para que as multinacionais pudessem avançar com as explorações. Como denunciou a ONG ecológica Centro Terra Viva (CTV), os projetos da ENI, uma multinacional italiana, e da Anadarko, dos Estados Unidos, não respeitaram a legislação vigente em Moçambique, uma vez que as comunidades podem ser reassentadas noutros locais sem perceber como foi feita a transferência do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUATE) das populações para os investidores.

Por causa de outro “ouro” africano, o óleo de palma, o cinturão tropical do continente negro formado pela Tanzânia, República Democrática do Congo, Angola , República do Congo, Camarões, Nigéria, Gana, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa e Guiné, tornou-se o alvo da cobiça das multinacionais, referiu esta semana um artigo publicado pelo jornal espanhol El País.

Comovente a carta escrita por Emmanuel Elong, um agricultor e ativista dos Camarões, ao CEO da multinacional francesa Bolloré, acionista da belga Socfin: “O impacto do grupo que diriges nas nossas vidas é imenso”.

A presença desta empresa nos Camarões resultou num arrendamento em 2016 de até 78.400 hectares de dendezeiros, entre outros, na zona de Mbonjo, localidade onde vivia o agricultor Elong, tornando-se assim o epicentro da produção de óleo de palma.

Segundo o artigo do El País, a presença das grandes multinacionais e o seu controlo sobre a terra não só separa os pequenos agricultores da corrida do cultivo do óleo de palma (e, portanto, deixando-os sem fonte de renda), mas também condena aqueles que fazem parte dessa expansão: da ausência das condições de trabalho aos maus tratos, falta de acesso a água potável ou casas degradadas a caírem aos bocados.

Em Angola, o setor petrolífero – que representa 98% das exportações do país – não emprega quase nenhuma população angolana. Angola é o segundo maior produtor de petróleo de África (já foi o primeiro, em 2016 e 2017), logo a seguir à Nigéria, segundo dados da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Um país que é “o paraíso do petróleo e dos bairros de lata” como uma vez foi titulado pela DW num artigo.

Estas profundas assimetrias, e os fossos profundos entre muito ricos e milionários, e muito pobres e miseráveis, são terreno fértil para a criminalidade organizada e para o terrorismo em organizações armadas também ao serviço de interesses obscuros e da ganância.

A maior culpa, em muitos casos, é de governos e regimes africanos incapazes de servirem os interesses dos próprios povos. Mas é também da realpolitik praticada pela comunidade internacional, preocupada em não prejudicar investimentos de corporações dos seus países. Este olhar para o lado faz com que África pareça irremediavelmente condenada a ser o pobre continente rico.

*Jornalista

Tem acesso livre a todos os artigos do Observador por ser nosso assinante.

Se tiver que definir “África” numa só palavra, qual é a primeira que lhe vem à cabeça? Talvez “pobreza” ou “fome” sejam duas opções. Mas há um projeto que quer mostrar o continente africano além das desigualdades sociais, da proliferação de doenças ou das limitações no desenvolvimento. Tudo começa com a hashtag #theafricathemedianevershowsyou (A África que os media nunca te mostram) a que se junta uma fotografia de uma paisagem bela, de um prato apetecível, de um monumento icónico ou de uma situação inesperada.

A ideia é divulgada pelo El País e pelo Mashable. Partiu de Rachel, uma adolescente de 17 anos que vive no Gana e está “farta de ver os media a falarem dos ‘sofrimentos africanos’ e a esconderem a beleza” do continente. Desde 23 de junho, o dia do desabafo, já foram publicados mais de 100 mil tweets sobre o assunto e 50 mil imagens com aquela hashtag.

“Comecei esta campanha porque sentia que estava na altura de mostrar ao mundo a verdade sobre os africanos, de ouvir as histórias e de ver a África que nós conhecemos, em vez da África que a maioria dos media mostra. Estando no Gana, e sendo africana no geral, sei que há muito mais do que pobreza, guerras étnicas e doenças. O mundo merece saber que há mais além disso”, explicou a rapariga ao Mashable.

Estas são algumas imagens partilhadas por utilizadores no Twitter, que mostram outra África além da subnutrição, do Ébola e da sida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Leia também:

Leia também:

Leia também:

Leia também:

Entre os países mais pobres do mundo, os dez primeiros pertencem ao continente africano: 13% da pobreza a nível mundial encontra-se em África. Aliás, a maior parte do continente está num estado de precariedade e pobreza extrema e por isso é importante que analisemos a situação.

África: o continente mais pobre do mundo

É importante perceber porque é que a pobreza se concentra desta forma num único continente. Para isso, analisaremos algumas das causas que estão na origem deste fenómeno.

Em África há conflitos de forma constante. E a verdade é que estes problemas só aparecem nos meios de comunicação ocidentais de forma superficial, o que faz com que poucas pessoas conheçam verdadeiramente a realidade desses territórios.

Os inúmeros recursos que, paradoxalmente, existem em terras africanas vão-se esgotando: a população fica sem comida, sem casa e, por consequência, sem conseguir suportar todas as suas necessidades básicas e que parecem imprescindíveis nos países ricos. As migrações forçadas causadas pelos conflitos e, também, cada vez mais pelos efeitos das alterações climáticas são muito mais frequentes. E isso acaba por só ajudar a aumentar os números da pobreza.

Por que a africa e tao pobre

Os dez países mais pobres são africanos

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) realiza um relatório anual sobre o índice de desenvolvimento humano, que mede a esperança média de vida, a taxa de alfabetização e o PIB. No último relatório publicado (2019), os países mais pobres eram, por esta ordem: Níger, República Centro-Africana, Chade, Sudão do Sul, Burundi, Mali, Eritreia, Burkina Faso, Serra Leoa, Moçambique e República Democrática do Congo.

1. Níger

Este é o país mais pobre de África. Depara-se com problemas não só relacionados com a fome e a pobreza, mas também ao nível de grandes epidemias como a malária, que é agravada pela desnutrição. Todos estes fatores são agravados pelas condições climáticas do país que está sujeito a grandes períodos de seca, o que reduz ainda mais a produção de alimentos. A esperança média de vida no Níger encontra-se entre os 61 e os 63 anos e o país chegou mesmo a ser considerado em 2014 o mais pobre do mundo. É um dos países em que a Ajuda em Ação está a começar a trabalhar, dando apoio ao nível da alimentação e fomentando o empoderamento feminino através de associações locais.

2. República Centro-Africana

Grande parte da população infantil deste país vê-se obrigada a aceitar trabalhos forçados, a trabalhar como escravos sexuais ou são recrutados como soldados. Muitas famílias centro-africanas viram-se obrigadas a fugir das suas casas devido às guerras que afetam o país há vários anos. Em 2012, o país entrou em guerra quando as forças do Governo e o grupo armado Séléka se opuseram. Embora o acordo de paz tenha sido assinado em 2015, a verdade é que a violência continua a estar presente neste que é um dos países mais pobres do mundo.

3. Chade

Situado na África Central, o país está dividido em três regiões – a zona Norte do deserto, a faixa de Sahel no centro e a fértil savana sudanesa no sul. Encontra-se com grandes problemas políticos devido à corrupção e são comuns os violentos confrontos armados, o que coloca o país na lista dos mais pobres do mundo.

4. Sudão do Sul

Depois da guerra no Sudão, a pobreza e a fome alastraram pela população. A agricultura e a criação de gado foram extremamente afetadas, pelo que o país ficou dependente do apoio dos países vizinhos. Os refugiados que regressaram também se tornaram um problema para o Sudão. Apesar da sua situação de pobreza, este país tem recursos minerais muito importantes, como é o caso do petróleo. Em resultado do acordo de paz de 2005, o Sudão passou a beneficiar finalmente da exploração destes minerais.

5. Burundi

Devido às revoltas causadas pelos conflitos políticos de 2015, encontravam-se cadáveres nas ruas da capital e por todo o país. Também a violência sexual é uma realidade neste país, em que a maioria dos casos dizem respeito à violação de mulheres, meninas e também de homens detidos por parte de polícias. Estes atos realizavam-se com o objetivo de impor um domínio sobre pessoas que estavam ligadas a partidos ou movimentos da oposição. A pobreza e a insegurança alimentar vieram assim agravar uma situação provocada, em grande parte, pelos efeitos das alterações climáticas. Com a sua subsistência a depender quase totalmente da produção agrícola, os baixos preços destes produtos fazem com que a economia do país seja bastante instável.

6. Mali

Com uma população de mais de 19 milhões de pessoas, a sua densidade é, sem dúvida, baixa: cerca de 15 habitantes por quilómetro quadrado. Embora seja um país rico ao nível dos recursos, como por exemplo o ouro, é um dos que surge habitualmente nos rankings dos países mais pobres. Para isso também contribuem a insegurança e os conflitos tribais que atualmente afetam o país. Para agravar ainda mais a situação, doenças como a malária também fazem parte da vida dos seus habitantes, levando, em muitas casos, à morte. Juntamente com o Níger, este é outro dos países em que começámos a trabalhar em 2019. Na zona do Sahel, 1 em cada 5 crianças com menos de 5 anos sofre de desnutrição aguda.

7. Eritreia

É um dos países mais pobres do mundo, mas também um dos mais inacessíveis do planeta. Isto deve-se ao regime ditatorial em que vive e que impede a maioria da população de saber o que acontece no resto do mundo. A pobreza extrema em que vive a maioria da população leva a grandes êxodos, sobretudo ao nível da população mais jovem. Existe um grande número de refugiados eritreus que fogem do país por causa da obrigação de cumprir o serviço militar ilimitado. A Etiópia (país com o qual a Eritreia esteve em guerra até 2018) é um dos países que acolhe estes refugiados e com os quais a Ajuda em Ação trabalha.

8. Burkina Faso

Desde os anos 60, altura em que o país se tornou independente da França, que existe uma grande instabilidade política. O elevado índice de crescimento populacional do país, bem como a aridez do seu solo são fatores que influenciam de forma significativa o índice da pobreza. A agricultura representa 32% do PIB e é responsável por 92% dos empregos da população ativa. Em termos de atividades, destaca-se a criação de gado e, nas regiões do sul e do sudoeste, o cultivo de sorgo, milhete, milho, amendoim, arroz e algodão.

9. Moçambique

Embora seja um país rico em recursos energéticos, minerais, florestais e marítimos, a população é extremamente pobre. Isto acontece, entre muitas outras razões, porque os recursos são explorados por um nicho de pessoas poderosas que conseguem grandes lucros, o que resulta numa elevada taxa de desigualdade. Uma minoria está a tornar-se cada vez mais rica à custa da maioria mais pobre. A Ajuda em Ação tem presença em Moçambique, onde se encontra Fátima, uma criança que faz cerca de cinco quilómetros por dia para ir buscar água, o que a impede de ir à escola. 

10. República Democrática do Congo

Apesar de esta doença já não ser muito falada, o ébola continua presente em determinadas regiões. No Congo, foi declarado um alerta em agosto de 2018 para esta doença, que em 16 meses foi responsável pela morte de mais de 2.200 pessoas. Com mais de 84 milhões de habitantes, este é um dos países mais populosos de África… e também um dos mais endividados do mundo. No entanto, a pobreza continua a ser uma das palavras que melhor caracteriza o país, com um PIB per capita de apenas 474 euros. Além disto, a corrupção é generalizada pela população, o que torna ainda mais difícil sair de uma situação de pobreza.

Os países mais pobres do mundo encontram-se mais perto de si do que pode imaginar. Junte-se a nós e faça parte desta ação.