Oque é uma comparação subjetiva

Comparação é uma figura de linguagem caracterizada pela analogia explícita entre termos de um enunciado, já que conta com a presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa. Isso já não acontece com a metáfora, que também realiza uma analogia, porém sem a presença desse tipo de conectivo. Já as símiles híbridas consistem na combinação entre uma comparação e uma metáfora.

Leia também: Eufemismo – figura de linguagem que suaviza uma informação

Exemplos de comparação

A comparação é uma figura de linguagem em que se percebe a analogia explícita entre dois ou mais termos, pois está sempre acompanhada de uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa.

Oque é uma comparação subjetiva
A comparação é feita entre dois ou mais elementos.

Veja os exemplos a seguir:

Fábio é mais velho do que Plínio.
(Comparação entre a idade de Fábio e a de Plínio.)

O livro é tal qual uma ponte para o infinito.
(Comparação entre o livro e uma ponte.)

Amo Pedro tanto quanto amei Micaela.
(Comparação entre o amor por Pedro e por Micaela.)

Eu vivia como um indigente.
(Comparação entre a vida do sujeito “eu” e a de um indigente.)

Oscar Wilde experimentou o prazer do aplauso, assim como a dor do desprezo.
(Comparação entre a experiência de ser aplaudido e de ser desprezado.)

Caminhava pelas ruas como se caminhasse em uma passarela.
(Comparação entre a forma de caminhar nas ruas e em uma passarela.)

Elisandro ria que nem um bobo.
(Comparação entre o riso de Elisandro e de um bobo.)

A comparação e a metáfora são figuras de linguagem, ou de palavras, que consistem na analogia entre um ou mais termos de um enunciado. No entanto, a comparação é caracterizada pela presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa, o que não acontece com a metáfora, na qual a analogia é implícita.

Oque é uma comparação subjetiva
A metáfora extrapola o sentido denotativo.

Assim, a comparação pode ser apontada no seguinte trecho da letra de música “Construção”, de Chico Buarque, do álbum Construção, de 1971:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina


[...]

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
[...]

Nessa letra, a conjunção “como” é responsável por explicitar diversas comparações. Já no trecho a seguir, da letra de música “Gita”, de Paulo Coelho e Raul Seixas (1945-1989), do álbum Gita, de 1974, é possível observar uma sequência de metáforas:
[...]

eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador

Eu sou, eu fui, eu vou

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contramão O sangue no olhar do vampiro

E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

[...]

Note que o eu lírico não utiliza nenhuma conjunção ou locução conjuntiva comparativa para se comparar a vários elementos, como ao sangue no olhar do vampiro. Portanto, nessa letra, há várias metáforas.

Leia também: Hipérbole – figura de linguagem que expressa exagero proposital

Símiles híbridas

As símiles híbridas é um fenômeno apontado por Vladimir Nabokov (1899-1977) ao analisar a obra, de Marcel Proust (1871-1922), Em busca do tempo perdido (1913-1927), e consiste na combinação entre uma metáfora e uma comparação. Assim, Nabokov1 dá o seguinte exemplo de comparação:

A névoa era como um véu.

Em seguida, um exemplo de metáfora:

Havia um véu de névoa.

Para, então, apontar as símiles híbridas:

O véu da névoa era como um sono silencioso.2

Assim, “véu da névoa”, uma metáfora pura, é comparado, a partir da conjunção “como”, a um “sono silencioso”.

Desse modo, são considerados símiles híbridas enunciados tais como:

A ponte para o infinito foi como um divisor de águas em minha vida.
(Ponte para o infinito = livro.)

O botão de rosa sorria como um dia de verão.
(Botão de rosa = boca.)

O grande pássaro era tal qual a alvorada.
(Grande pássaro = liberdade.)

Veja também: Paradoxo – figura de linguagem que expressa uma ideia contraditória

Exercícios resolvidos

Questão 01 (Enem)

Não somos tão especiais

Extra, extra. Este macaco é humano.

Todas as características tidas como exclusivas dos humanos são compartilhadas por outros animais, ainda que em menor grau.

INTELIGÊNCIA

A ideia de que somos os únicos animais racionais tem sido destruída desde os anos 40. A maioria das aves e mamíferos tem algum tipo de raciocínio.

AMOR

O amor, tido como o mais elevado dos sentimentos, é parecido em várias espécies, como os corvos, que também criam laços duradouros, se preocupam com o ente querido e ficam de luto depois de sua morte.

CONSCIÊNCIA

Chimpanzés se reconhecem no espelho. Orangotangos observam e enganam humanos distraídos. Sinais de que sabem quem são e se distinguem dos outros. Ou seja, são conscientes.

CULTURA

O primatologista Frans de Waal juntou vários exemplos de cetáceos e primatas que são capazes de aprender novos hábitos e de transmiti-los para as gerações seguintes. O que é cultura se não isso?

BURGIERMAN, D. Superinteressante, n. 190, jul. 2003.

O título do texto traz o ponto de vista do autor sobre a suposta supremacia dos humanos em relação aos outros animais. As estratégias argumentativas utilizadas para sustentar esse ponto de vista são

a) definição e hierarquia.

b) exemplificação e comparação.

c) causa e consequência.

d) finalidade e meios.

e) autoridade e modelo.

Resolução:

Alternativa “b”.

O autor do texto utiliza os seguintes exemplos: inteligência, amor, consciência e cultura. Além disso, aponta esta comparação: “O amor, [...], é parecido em várias espécies, como os corvos”.

Questão 02 (AEVSF/ Facape - adaptada)

No trecho “um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo” existe a seguinte figura de palavra:

a) Catacrese

b) Comparação

c) Antonomásia

d) Sinédoque

e) Metáfora

Resolução:

Alternativa “b”.

Nesse trecho, “um mundo sem adjetivos” é comparado a “um hospital no domingo”. Para isso, é usada a conjunção comparativa “como”.

Questão 03 (Unimontes - adaptada)

Todos os enunciados a seguir apresentam uma estrutura comparativa, EXCETO:

a) “Optou por ensinar como proporcionar uma boa dieta com recursos escassos.”

b) “Não é esdrúxulo como ser devorado por um jacaré.”

c) “... a presença dessa coisa chamada amor como motor, tanto dela como das pessoas em quem ela inoculava o mesmo vírus.”

d) “Também não é raro como cair no poço do elevador, como a atriz Anecy Rocha...”

Resolução:

Alternativa “a”.

Todas as alternativas utilizam o termo “como”. No entanto, na alternativa “a”, ele não exerce a função de conjunção comparativa, pois está sendo usado como advérbio para indicar o modo de se fazer algo.

Notas

[1] Citado por Omar Alejandro Ángel Cortés.

[2] Tradução, do espanhol para o português, de Warley Souza. 

O objetivo do estudo foi comparar a PSE no limiar ventilatório (LV) entre homens e mulheres. Participaram 17 homens (24,0 ± 3,3 anos) e 17 mulheres (22,5 ± 2,6 anos), submetidos a duas sessões experimentais com intervalo mínimo de 48 horas: (I) avaliação antropométrica e instruções referentes aos procedimentos e (II) teste máximo em esteira. Na análise estatística empregou-se teste t Student para verificar possíveis diferenças entre gêneros (p < 0,05). Não foram verificadas diferenças significativas entre homens e mulheres para a PSE LV (11,1 ± 1,8 e 12,1 ± 1,5, respectivamente). Apesar de as mulheres demonstrarem PSE superior em intensidade de exercício baseada em níveis absolutos, estas diferenças desaparecem quando homens e mulheres são testados em intensidade relativa de exercício. Conclui-se que homens e mulheres apresentam valores de PSE LV entre 12 e 13 ("leve" e "algo difícil") durante teste de esforço máximo.

Gênero; aptidão física; esforço

The purpose of the present study was to compare the rating of perceived exertion (RPE) at ventilatory threshold (VT) during graded treadmill exercise between men and women. Participated 17 men (24.0 ± 3.3 years) and 17 women (22.5 ± 2.6 years) were submitted to two experimental sessions with a minimum interval of 48 hours: (I) anthropometric evaluation and instructions regarding the procedures, and (II) graded treadmill exercise. For statistical analysis, was employed used t Student test to verify possible differences between genders (p > 0.05). There were no significant differences between genders to RPE VT (11.7 ± 1.8 and 12.2 ± 1.5, respectively). Although women had a higher RPE to exercise intensity based on absolute levels, these differences were minimized or disappeared when men and women were compared at similar relative exercise intensity. The result of present study showed that men and women had a similar RPE VT between 12 and 13 ("light" and "something hard") during graded treadmill exercise.

Gender; physical fitness; effort

ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL ARTICLES

Comparação da percepção subjetiva do esforço no limiar ventilatório entre os gêneros

Comparison the rating perceived exertion at ventilatory threshold between genders

Kleverton KrinskiI; Hassan Mohamed ElsangedyII; Renan Felipe Hartmann NunesI; Flávia Angélica Martins AlmeidaI; Bruno Vinicius SantosI; Maressa Priscila KrauseI; Luciana da Silva TimossiI; Sergio Gregorio Da SilvaI

IDepartamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil.

IIDoutor. Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Potiguar, Natal-RN, Brasil.

Correspondência para

RESUMO

O objetivo do estudo foi comparar a PSE no limiar ventilatório (LV) entre homens e mulheres. Participaram 17 homens (24,0 ± 3,3 anos) e 17 mulheres (22,5 ± 2,6 anos), submetidos a duas sessões experimentais com intervalo mínimo de 48 horas: (I) avaliação antropométrica e instruções referentes aos procedimentos e (II) teste máximo em esteira. Na análise estatística empregou-se teste t Student para verificar possíveis diferenças entre gêneros (p < 0,05). Não foram verificadas diferenças significativas entre homens e mulheres para a PSELV (11,1 ± 1,8 e 12,1 ± 1,5, respectivamente). Apesar de as mulheres demonstrarem PSE superior em intensidade de exercício baseada em níveis absolutos, estas diferenças desaparecem quando homens e mulheres são testados em intensidade relativa de exercício. Conclui-se que homens e mulheres apresentam valores de PSELV entre 12 e 13 ("leve" e "algo difícil") durante teste de esforço máximo.

Palavras-chave: Gênero, aptidão física, esforço

ABSTRACT

The purpose of the present study was to compare the rating of perceived exertion (RPE) at ventilatory threshold (VT) during graded treadmill exercise between men and women. Participated 17 men (24.0 ± 3.3 years) and 17 women (22.5 ± 2.6 years) were submitted to two experimental sessions with a minimum interval of 48 hours: (I) anthropometric evaluation and instructions regarding the procedures, and (II) graded treadmill exercise. For statistical analysis, was employed used t Student test to verify possible differences between genders (p > 0.05). There were no significant differences between genders to RPEVT (11.7 ± 1.8 and 12.2 ± 1.5, respectively). Although women had a higher RPE to exercise intensity based on absolute levels, these differences were minimized or disappeared when men and women were compared at similar relative exercise intensity. The result of present study showed that men and women had a similar RPEVT between 12 and 13 ("light" and "something hard") during graded treadmill exercise.

Keywords: Gender, physical fitness, effort

INTRODUÇÃO

O limiar anaeróbio (LAn) é comumente definido como a intensidade crítica para a atividade oxidativa máxima e manutenção de um estado estável, ou a intensidade de esforço físico em que ocorre a transição aeróbio-anaeróbia no metabolismo muscular (SVEDAHL; MACINTOSH, 2003). Tem sido demonstrado que se exercitar em uma intensidade próxima ou no LAn pode aperfeiçoar as melhoras no condicionamento cardiorrespiratório em uma condição em que é minimizado o desconforto associado à produção de lactato durante o exercício (GASKILL et al., 2001). Além disso, este ponto tem sido amplamente utilizado para avaliação da aptidão física, prescrição de intensidades de exercícios aeróbios e para monitoração de modificações em indicadores aeróbios induzidos por programas de treinamento (RIBEIRO, 1995).

Em virtude da ampla aplicabilidade da utilização do LAn, sua determinação apresenta-se como uma importante ferramenta no âmbito da prescrição e acompanhamento do exercício (SVEDAHL; MACINTOSH, 2003). A determinação do LAn pode ser realizada utilizando-se métodos a partir das concentrações de lactato sanguíneo ou através de alterações ventilatórias (GASKILL, et al., 2001). Apesar da precisão desses métodos, para determiná-los é preciso usar equipamentos específicos, o que eleva o custo da avaliação, limitando a sua utilização.

Dessa forma, para facilitar e tornar mais acessível a determinação do Lan, a utilização da percepção subjetiva do esforço (PSE) associada ao Lan tem se demonstrado uma estratégia aplicável, em virtude de ser uma medida não invasiva e apresentar um baixo custo de aplicação, além de ser um método simples e prático de controlar a intensidade do exercício físico (ROBERTSON et al., 2000).

Estudos anteriores têm sugerido que a PSE entre 11 e 14 na escala de 15-pontos de Borg (DEMELO et al., 1987; SWAINE et al., 1995; PRUSACZYK et al., 1992; PURVIS; CURETON, 1981) corresponde ao limiar ventilatório (LV). Em geral, foi demonstrado que esta variabilidade poderia ser explicada por diversos fatores, como, por exemplo, a modalidade de exercício realizada e o gênero (NOBLE; ROBERTSON, 1996; GARCIN; BILLAT, 2001, GREEN et al., 2003).

As investigações que buscaram analisar a percepção subjetiva no limiar ventilatório (PSELV) entre os gêneros não encontraram diferenças significativas, apresentando valores de PSE entre 13 e 14 (PURVIS; CURETON, 1981; DEMELLO et al., 1987); porém esses estudos utilizaram o cicloergômetro, e a extrapolação de tais resultados pode não se estender para o controle de intensidade de exercícios que envolvam grandes grupos musculares, como caminhada ou corrida na esteira, pois no cicloergômetro os sinais periféricos parecem modular as respostas perceptuais, enquanto na esteira os indivíduos respondem a uma PSE mais global, sendo os escores maiores no cicloergômetro, se comparados aos verificados em esteira (GREEN et al., 2003).

Sendo assim, hipotetizamos que as respostas perceptuais poderiam diferenciar-se entre os gêneros no exercício realizado em esteira ou apenas apresentar escores diferentes daqueles encontrados nos estudos anteriormente realizados. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo comparar a PSELV durante um teste de esforço máximo em esteira entre homens e mulheres.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Sujeitos

O recrutamento dos sujeitos foi realizado através de uma seleção feita por conveniência, mediante convites pessoais e anúncios fixados nos murais dos quatro campi da Universidade Federal do Paraná. A amostra foi composta de 34 indivíduos adultos (17 homens e 17 mulheres) que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: terem experiência prévia com caminhada em esteira e serem classificados como ativos mediante aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) na versão curta (MATSUDO et al., 2001). Foram excluídos os indivíduos que apresentassem a possibilidade de ter problemas metabólicos, cardiovasculares, osteomioarticulares ou quaisquer outros que limitassem a prática de exercícios programados, bem como as mulheres submetidas à avaliação médica que apresentassem o quadro de gravidez.

Para determinar o número de sujeitos foi utilizado um cálculo amostral em que se adotou um poder de 0,80, alfa de 0,05 e magnitude de efeito de 1,17, estimando 17 sujeitos para cada grupo experimental no modelo que verifica as diferenças nas variáveis analisadas entre os dois grupos (amostras independentes). Desta forma, o número de sujeitos foi suficiente para testar as hipóteses a um alfa de 0,05.

Todos os sujeitos foram informados sobre os procedimentos utilizados e os possíveis benefícios e riscos atrelados à execução do estudo, e de que sua participação seria voluntária e se manifestaria pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme estabelecem as diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres humanos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (Registro do CEP/SD: 829.164.09.10).

Delineamento experimental

O delineamento de pesquisa empregado foi o comparativo quase-experimental. Os participantes foram submetidos a duas sessões laboratoriais em dias distintos, com um intervalo de 48 horas. Na primeira sessão os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TECLE), seguido-se a avaliação antropométrica, a familiarização com os equipamentos e instruções referentes às sessões experimentais. Na segunda sessão foi aplicado um teste incremental em esteira até a exaustão volitiva, para a obtenção dos parâmetros fisiológicos máximos e relativos ao limiar ventilatório. Todos os participantes foram instruídos a não realizarem atividade física vigorosa nas 24 horas anteriores aos testes e a não ingerirem qualquer tipo de alimento e bebidas cafeinados durante as duas horas antecedentes ao seu início. A média de temperatura ao longo dos testes foi de 24,0 ± 0,5 °C.

Sessão de familiarização

Na sessão de familiarização, após explanações da proposta do estudo e procedimentos experimentais a serem adotados, os sujeitos assinaram o TECLE. Na seqeência foi realizada uma avaliação antropométrica (peso, estatura e dobras cutâneas) e instruções padronizadas referentes à escala de Borg (6-20) (1982).

Teste incremental até a exaustão em esteira

Após um intervalo de 48 horas em relação à sessão de familiarização, todos os participantes realizaram um aquecimento em esteira (marca Reebok Fitness, modelo X-fit 7, Londres, Reino Unido) de cinco minutos, a uma velocidade padrão de 4,0 km·h-1, sem inclinação. Posteriormente, um teste de esteira incremental foi conduzido mediante utilização do protocolo de Bruce (1971). O teste foi mantido até a exaustão volitiva dos participantes, que foram encorajados verbalmente a se manterem em exercício pelo maior tempo possível. Durante esta sessão foram mensuradas as respostas fisiológicas máximas referentes ao limiar ventilatório.

Percepção subjetiva de esforço (PSE)

A PSE foi determinada através da Escala de Borg (6-20) (1982), instrumento composto de uma escala Likert de 15 pontos, variando de 6 a 20, a qual inicia com "muito, muito leve" e finaliza com "muito, muito difícil". A ancoragem da escala de Borg (6-20) (1982) foi realizada imediatamente antes do início do teste incremental máximo em esteira através da ancoragem de memória, a fim de padronizar a baixa e alta percepção subjetiva do esforço, como proposto por Robertson et al. (2000).

Instrumentos e procedimentos

As variáveis antropométricas massa corporal (MC, em kg; balança marca Toledo, modelo 2096), estatura (EST, em cm; estadiômetro marca Sanny, modelo Standard) e índice de massa corporal (IMC, em kg/m2) foram obtidas conforme os procedimentos propostos por Gordon, William e Alex (1988). A densidade corporal foi mensurada pelo método de espessura de dobras cutâneas (bicipital, tricipital, subescapular e suprailíaca), de acordo com a equação proposta por Durnin e Womersley (1974). Posteriormente, o percentual de gordura corporal (% gordura) foi obtido mediante utilização da equação de Siri (1961). Para evitar variações interavaliadores, todas as medidas foram obtidas por um único avaliador previamente treinado.

O VO2 foi registrado a cada respiração e determinado por meio de um sistema portátil de espirometria computadorizado de circuito aberto (marca Cosmed K4b2, Roma, Itália), composto por uma unidade analisadora, bateria, máscara facial e um monitor cardíaco. Antes de cada teste os sistemas de análise do O2 e CO2 foram calibrados usando-se o ar ambiente e um gás com concentrações conhecidas de O2 e CO2, enquanto a turbina bidirecional (medidor de fluxo) foi calibrada usando-se uma seringa de 3-L (marca Hans Rudolph, modelo 5530, Kansas City, Missouri, EUA). Os dados dos testes foram obtidos respiração a respiração, e posteriormente reduzidos a médias com intervalos de 15 segundos.

O VO2Máx e o consumo de oxigênio no limiar ventilatório (VO2LV) foram determinados como o maior VO2 médio (intervalo de 1 minuto) verificado no último estágio completo do teste de esteira incremental e no limiar ventilatório, respectivamente (CAIOZZO et al., 1982). A determinação do VO2Máx baseou-se em dois dos seguintes critérios: (a) platô do O2, indicado por uma diferença de < 2,1 mL·Kg-1·min-1 entre os dois últimos estágios do teste; (b) taxa de troca respiratória (RER) > 1,10; e (c) frequência cardíaca dentro de ± 5 bpm para cada sujeito através do valor máximo predito pela idade (CAIOZZO et al., 1982). O limiar ventilatório (LV) foi calculado individualmente através do método de equivalente ventilatório, considerada a intensidade na qual há o primeiro aumento súbito no equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) sem alterações no equivalente ventilatório de dióxido de carbono (VE/VCO2). Uma avaliação a posteriori, para determinar o LV, foi conduzida por dois experientes avaliadores, sendo determinado como LV o primeiro ponto de quebra onde houve concordância nas identificações (CAIOZZO et al., 1982).

A FCMáx e frequência cardíaca no limiar ventilatório (FCLV) foram determinadas como a maior FC média (intervalo de 1 minuto) verificada no último estágio completo do teste de esteira incremental e no limiar ventilatório, respectivamente.

Procedimentos estatísticos

Foram utilizadas medidas de tendência central e variabilidade. Para testar a normalidade dos dados utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. As diferenças entre os gêneros para as variáveis fisiológicas foram determinadas pelo teste t Student para amostras independentes, com a adoção de um nível de significância de p < 0,05. Os procedimentos estatísticos do presente estudo foram realizados mediante a utilização do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, versão 13.0) for Windows.

RESULTADOS

As características dos sujeitos são apresentadas na Tabela 1, demonstrando uma MC e estatura superior nos homens comparado as mulheres.

Os parâmetros fisiológicos obtidos durante o teste incremental até a exaustão estão apresentados na Tabela 2. Segundo os critérios de classificação de aptidão cardiorrespiratória propostos pelo ACSM (2006), a amostra apresentou um bom nível de condicionamento, pois os valores médios de VO2Máx estiveram acima do percentil 90 para homens (57,3 ml∙kg-1∙min-1) e acima do percentil 80 para mulheres (45,9 ml∙kg-1∙min-1), classificados dentro da faixa de idade de 20 a 29 anos.

O teste t para amostras independentes demonstrou diferenças significativas entre os gêneros durante o teste incremental até a exaustão nos parâmetros fisiológicos VO2Máx e VO2LV (p > 0,05), revelando que os homens possuem um maior nível de condicionamento cardiorrespiratório quando comparados com as mulheres. A PSELV não apresentou diferenças significativas entre os gêneros (p = 0,41).

DISCUSSÃO

No presente estudo foi verificado que homens e mulheres apresentaram respostas similares da PSELV (11,7 ± 1,8 e 12,1 ± 1,5, respectivamente), evidenciando que adultos fisicamente ativos percebem a intensidade do exercício no LV entre "leve" e "algo difícil". Estes resultados estão de acordo com estudos anteriores, os quais verificaram respostas similares entre os gêneros para a PSE correspondente ao LV (PURVIS; CURETON et al., 1981; DEMELLO et al., 1987; NOBLE; ROBERTSON, 1996; GREEN et al., 2003). Purvis e Cureton (1981) demonstraram que homens e mulheres com idade entre 21 e 37 anos, fisicamente ativos (VO2Máx ~ 45 ml∙kg-1∙min-1), reportaram uma PSE correspondente ao LV similar de ~13.5. DeMello et al. (1987), ao avaliarem homens e mulheres entre 18 e 35 anos, treinados (VO2Máx ~ 62 ml∙kg-1∙min-1) e destreinados (VO2Máx ~ 44 ml∙kg-1∙min-1), observaram que a PSE correspondente ao limiar de lactato (LL) não se diferenciou entre os gêneros.

Como verificado em estudos anteriores destinados a comparar as respostas fisiológicas durante o exercício entre os gêneros, ficou demonstrado que homens tendem a se exercitar em uma intensidade absoluta superior à de mulheres, fato que pode ser decorrente de um maior nível de condicionamento físico reportado na amostra masculina (KRINSKI et al., 2008; KRINSKI et al., 2009); no entanto, quando comparados homens e mulheres em uma intensidade relativa (%VO2Máx e %FCMáx), observa-se que ambos os gêneros tendem a se exercitar em uma intensidade similar, consequentemente as respostas perceptuais apresentam-se semelhantes (UEDA; KUROKAWA, 1995; NOBLE; ROBERTSON, 1996; GREEN et al., 2003; FAULKNER; ESTON, 2007).

De maneira geral e em conformidade com estudos anteriores, a PSE entre 12 e 14 é correspondente ao LV e LL em diferentes grupos, incluindo homens e mulheres saudáveis fisicamente ativos (DEMELLO et al., 1987; PRUSACZYK et al., 1992), homens sedentários de meia-idade (DRESSENDORFER et al., 1981), mulheres adultas treinadas e destreinadas (SWAINE et al., 1995) e homens jovens altamente treinados (ALLEN et al., 1985; FERICHE et al., 1998). Embora os achados dos estudos de Purvis e Cureton (1981) e Prusaczyk et al., (1992) concordem com os verificados no presente estudo, demonstrando uma PSE similar entre os gêneros durante o LV, cabe ressaltar que os escores de PSE reportados no presente estudo foram inferiores aos registrados por Purvis e Cureton (1981) e Prusaczyk et al., (1992). Essa variabilidade nas respostas perceptuais pode ser explicada pelo tipo de exercício empregado nas investigações, visto que no presente estudo foi utilizado o exercício na esteira, enquanto nos estudos supracitadas foi utilizado o cicloergômetro. As respostas diferenciadas entre exercício em esteira e cicloergômetro ainda não estão totalmente estabelecidas, porém alguns estudos indicam que as diferenças entre os modos de exercício podem ser explicados pelo fato de que, quando um exercício máximo é realizado em cicloergômetro, há uma maior fadiga localizada, a qual leva ao aumento da resposta perceptual, denominada PSE-localizada; ou seja, os sinais periféricos parecem modular as respostas perceptuais durante o exercício em cicloergômetro, enquanto na esteira os indivíduos parecem responder a uma PSE global (NOBLE; ROBERTSON, 1996; GREEN et al., 2003) . Estes achados podem ser confirmados pelo estudo conduzido por Green et al., (2003), os quais buscaram comparar a PSELV entre diferentes modos de exercício e verificaram valores significativamente superiores para a PSELV em cicloergômetro (escore de 14) em comparação com a esteira (escore de 12).

Desta forma, os valores médios para a PSE (escore de 12) verificados na presente investigação, caracterizados entre "leve" e "algo difícil" (pontos de 11-13, respectivamente), poderiam ser utilizados como um indicador simples e prático correspondente ao ponto de transição aeróbio-anaeróbio em homens e mulheres adultos jovens e fisicamente ativos durante exercício realizado na esteira.

Esses resultados podem ser de grande importância no âmbito da prática de prescrição do exercício físico, principalmente para profissionais de academias, treinadores e outros, visto que o uso da escala de PSE tem se mostrado um mecanismo prático e de grande utilidade (GARCIN; BILLAT, 2001). Assim, a taxa da PSE no limiar ventilatório pode ser usada para individualizar a prescrição do treinamento, além de permitir uma precisão na prescrição e controle da periodização do treinamento (GARCIN; BILLAT, 2001), servindo como um mecanismo fidedigno de prescrição de intensidade do exercício para ambos os gêneros.

Não obstante, cabe ressaltar que os resultados do presente estudo devem ser analisados com cautela, pois a extrapolação destes achados pode demonstrar resultados diferentes quando aplicados a outras populações e a outras modalidades de exercício físico que não sejam caminhada ou corrida. Sugere-se a realização de estudos que investiguem os fatores relacionados a essa variabilidade, à população e a diferentes tipos de exercícios.

CONCLUSÃO

Os achados do presente estudo permitem chegar a conclusões teóricas e práticas. Do ponto de vista teórico, ficou demonstrado que homens e mulheres apresentam uma PSE semelhante durante o LV em exercício na esteira, caracterizada entre "leve" e "algo difícil. Do ponto de vista prático, a presente investigação revela que adultos jovens fisicamente ativos de ambos os gêneros, quando se exercitam em uma PSE de 12, encontram-se no ponto de transição aeróbio-anaeróbio denominado como LV, permitindo uma maior acurácia na prescrição e controle do treinamento, de maneira simples e barata.

Endereço para correspondência:

  • Jardim Botânico - CEP: 80.215-370, Curitiba-Pr, Brasil

  • Recebido em 20/05/2010

    Revisado em 19/11/2010

    Aceito em 04/04/2011

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    Sergio Gregorio da Silva Rua Coração de Maria, 92 Jardim Botânico - CEP: 80.215-370, Curitiba-Pr, Brasil E-mail:

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012

    • Recebido
      20 Maio 2010
    • Aceito
      04 Abr 2011
    • Revisado
      19 Nov 2010