O que aconteceu em 1968 na França

Há cinquenta anos, a França foi sacudida por uma série de protestos que evoluíram para uma greve geral de mais de 7 milhões de trabalhadores. A data, que ficou conhecida como Maio de 1968, está marcada na memória dos franceses como um símbolo de liberdade.

O movimento começou com protestos estudantis, teve a adesão de operários e cresceu tanto que evoluiu para a maior greve de trabalhadores da história do país. Além de abalar o governo de Charles De Gaulle, então presidente da França, as manifestações acabaram por influenciar a cultura e a política de diversas gerações ao redor do mundo. A famosa frase "É Proibido Proibir", eternizada na canção de Caetano Veloso, era um dos slogans do movimento.

O início das manifestações aconteceu após uma disputa entre estudantes e autoridades da Universidade de Paris, do Campus Nanterre, cidade próxima à capital francesa. A instituição ameaçou expulsar alunos acusados de liderar protestos. A medida provocou uma reação imediata dos alunos da renomada Sorbonne, que se uniram aos colegas.

A polícia reagiu e reprimiu com violência o movimento, que acabou por ganhar o apoio de milhões de operários, transformando-se em uma grande manifestação contra o governo, pelo aumento do salário mínimo e por direitos sociais.

Com a enorme adesão dos trabalhadores, a economia francesa estava praticamente paralisada e Charles de Gaulle, que estava no poder há quase dez anos, se viu obrigado a convocar novas eleições. Com a promessa do governo de aumentos salariais e a expectativa de novas eleições, o movimento foi perdendo força e os operários voltaram às fábricas. Em junho daquele mesmo ano, o partido de De Gaulle venceu as eleições.

Alguns críticos afirmam que o movimento não teve grande peso histórico, mas para os defensores de Maio de 68, o mês será sempre lembrado como símbolo de uma luta pela liberdade que uniu diferentes setores da sociedade.

Atos em Paris

Neste 1° de maio, atos violentos marcaram as manifestação ocorridas em Paris. Um grupo de mascarados enfrentou a polícia no centro da capital durante protesto convocado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT). As forças de ordem tinham tomado precauções e desdobrado ao longo do trajeto, da praça da Bastilha até à praça Itália, um total de 1,5 mil policiais e militares.

Pouco depois do início da manifestação, por volta das 15h30 (13h30, em Brasília), a polícia divulgou a informação de que tinha detectado 1,2 mil indivíduos mascarados e encapuzados na altura da Ponte de Austerlitz, mais ou menos na metade do percurso previsto. Integrantes desse grupo lançaram projéteis contra os agentes, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água.

Um restaurante McDonald's foi danificado, assim como uma concessionária de carros e uma imobiliária, além de contêineres de lixo. O ministro francês do Interior, Gérard Collomb, condenou a violência e o vandalismo.

*com informações da Agência EFE

A "crise" de maio de 1968 começou por ser uma contestação estudantil francesa que teve réplicas nos demais países desenvolvidos, desde os EUA ao Japão. Existia todo um mal-estar profundo no seio dos estudantes, iniciado já em março com algumas agitações. O detonador da crise apareceu em Nanterre, nos arredores da capital francesa, tradicionalmente apelidada de feudo "esquerdista". Assim, depois de repetidos incidentes, entre os quais a ocupação pelos estudantes, a Faculdade de Nanterre foi fechada a 2 de maio.

Grupos de esquerda, revoltados "contra a sociedade de consumo", o ensino tradicional e a insuficiência de saídas profissionais, decidem opor-se pela "contestação permanente". Inicia-se logo aí o movimento dirigido por Daniel Cohn-Bendit. Os estudantes ocupam, depois, a Universidade da Sorbonne - encerrada pelas autoridades a 3 de maio -, sofrendo uma dura intervenção policial. Geram-se tumultos e focos de tensão, com as primeiras barricadas nas ruas - nomeadamente no Quartier Latin (confrontos de que resultam 805 feridos, entre os quais 345 polícias) -, entrando-se num ciclo de provocação e repressão.

A universidade de Sorbonne foi palco de grandes agitações estudantis

A 9 de maio, contra esta tendência, dá-se, no Boulevard St. Michel, uma manifestação pacífica. No dia seguinte, regressa a violência, com a famosa "noite das barricadas", carros em chamas, agitação na Sorbonne. Segue-se uma gigantesca manifestação estudantil em Paris, a 13 de maio, com cerca de 600 000 estudantes.

O conflito alarga-se, porém, ao setor social, com manifestações sindicais nesse mesmo dia, acompanhadas de greves que paralisaram mais de 10 milhões de trabalhadores em França. Apesar do envolvimento da classe operária, o Partido Comunista Francês e a CGT (Confederação Geral do Trabalho) adotam uma posição calculista, classificando as revoltas estudantis e a greve geral como "aventureirismo" e concentrando-se apenas em reivindicações profissionais e laborais, em contraponto às exigências de reformas estruturais dos estudantes (maoistas, anarquistas, trotskistas...).

Entretanto, o primeiro-ministro Georges Pompidou reabre a Sorbonne a 14 de maio, dizendo que era "proibido proibir". A Renault entra também em greve. Esta pressão laboral conduzirá aos acordos de Grenelle, a 25-27 de maio, nos quais a classe patronal garantirá um aumento de 10% dos salários e de 35% do salário mínimo. Os sindicatos aceitam, mas as suas bases operárias mantêm a greve.

Apesar deste primeiro passo para a paz social, o presidente Charles de Gaulle considera a situação incontrolável, propondo um referendo. Não é, porém, escutado e ao mesmo tempo dão-se distúrbios nas ruas. A crise torna-se cada vez mais política, inquietando-se os ministros com a possibilidade de rutura e queda do Governo, perante rumores da formação de um Executivo provisório, de crise. Em 24 de maio, de Gaulle dissolvia a Assembleia.

A violência nas ruas começa, entretanto, a irritar a França "profunda", mais conservadora. Teme-se o peso crescente do Partido Comunista, acusado de instigador, apesar da demarcação política desenhada logo no começo dos distúrbios. Crê-se mesmo numa revolução nacional. Entretanto, ninguém sabe de de Gaulle, acreditando mesmo Pompidou que o regime estava a chegar ao fim.

Porém, numa alocução ao país via rádio a 30 de maio - como nos tempos da guerra, encorajando os compatriotas -, o de Gaulle apela à ordem e anuncia eleições legislativas para junho. No mesmo dia, junto ao Arco do Triunfo, os gaullistas organizam uma manifestação de apoio ao regime. A propósito do comunicado de de Gaulle à nação, diz Jean Lacoutoure: "Antes das 16h 30, estava-se em Cuba; depois das 16h 35 estava-se quase na Restauração". Depois de uma situação que tendia para a anarquia e para uma via socialista, consegue-se recuperar o caminho da democracia e evitar uma agudização dos factos.

Apesar dos protestos da esquerda e de alguma violência, a França votará. A 16 de junho, durante os distúrbios no Quartier Latin, morre Gilles Tautin, de 17 anos. É o fim da crise estudantil: a situação política, essa, continuará agitada.

O centro e a direita anti-gaullista colocam-se gradualmente ao lado do Governo, que assim vê surgir uma base de apoio inesperada, dispondo então de uma maioria esmagadora. Esta plataforma política conservadora desconfia, porém, da vontade de reformar do presidente, exigindo mesmo a constituição rápida de um novo Governo e novas eleições legislativas. Em parte, estas condições serão satisfeitas.

Nas eleições de 23 e 30 de junho, o regime gaullista sai reforçado, com uma vitória da UDR (União Democrática Republicana) e um claro recuo dos partidos de esquerda, apesar da crise de maio ter feito "tremer" o poder de de Gaulle, demonstrando a insatisfação crescente da juventude e das forças sociais face ao conservadorismo do regime. Para muitos analistas, o medo suscitado pelas convulsões daquela altura permitiu a manutenção da ordem estabelecida, que acenava com projetos de reforma moderada da vida política francesa.

Apesar do sucesso das eleições de junho e das tentativas de reforma do governo de Couve de Murville (primeiro-ministro gaullista eleito em junho de 68), de Gaulle sofrerá uma derrota política no referendo de abril de 1969 sobre a regionalização e a reforma do Senado. Demite-se entretanto, abandonando a política. "

Nada será como antes de maio de 68". Passados alguns anos, esta ideia mantém-se viva: o ano primeiro da contestação e das mudanças terá começado mesmo em junho daquele ano. As instituições políticas não caíram mas tremeram, e os franceses repensaram o seu próprio futuro. Houve, acima de tudo, uma alteração das mentalidades, com o aparecimento de mudanças há muito esperadas em França.

Os costumes evoluem, com a permissividade a abrir caminho na sociedade francesa. Os conservadores mantêm o poder, mas a abertura a novas ideias é cada vez maior, aumentando a contestação por parte dos intelectuais: o aparecimento e a divulgação de trabalhos efetuados na área das ciências sociais e humanas é uma realidade cada vez mais forte no mundo científico francês. A voz das minorias começa a levantar-se. Há uma crescente emancipação das mulheres. O próprio clero inicia também uma autorreflexão. Generosidade maior, humanismo, ecologia e nacionalismo são alguns dos conceitos herdados de todo este movimento contestatário de 68, antecâmara da realidade dos anos 70 e 80.

Foi uma grande onda de protestos que teve início com manifestações estudantis para pedir reformas no setor educacional. O movimento cresceu tanto que evoluiu para uma greve de trabalhadores que balançou o governo do então presidente da França, Charles De Gaulle. “Os universitários se uniram aos operários e promoveram a maior greve geral da Europa, com a participação de cerca de 9 milhões de pessoas. Isso enfraqueceu politicamente o general De Gaulle, que renunciou um ano depois”, diz o historiador Alberto Aggio, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Franca (SP).

O começo de tudo foi uma série de conflitos entre estudantes e autoridades da Universidade de Paris, em Nanterre, cidade próxima à capital francesa. No dia 2 de maio de 1968, a administração decidiu fechar a escola e ameaçou expulsar vários estudantes acusados de liderar o movimento contra a instituição. As medidas provocaram a reação imediata dos alunos de uma das mais renomadas universidades do mundo, a Sorbonne, em Paris.

Eles se reuniram no dia seguinte para protestar, saindo em passeata sob o comando do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit. A polícia reprimiu os estudantes com violência e durante vários dias as ruas de Paris viraram cenário de batalhas campais. A reação brutal do governo só ampliou a importância das manifestações: o Partido Comunista Francês anunciou seu apoio aos universitários e uma influente federação de sindicatos convocou uma greve geral para o dia 13 de maio.

No auge do movimento, quase dois terços da força de trabalho do país cruzaram os braços. Pressionado, no dia 30 de maio o presidente De Gaulle convocou eleições para junho. Com a manobra política (que desmobilizou os estudantes) e promessas de aumentos salariais (que fizeram os operários voltar às fábricas), o governo retomou o controle da situação. As eleições foram vencidas por aliados de De Gaulle e a crise acabou.

PARIS EM PÉ DE GUERRA

Universitários montaram barricadas nas ruas e usaram pedras para enfrentar a polícia.

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No dia 6 de maio de 1968, uma passeata foi convocada pela União Nacional de Estudantes da França e pelo sindicato dos professores universitários. O objetivo era protestar contra a invasão da Universidade de Sorbonne pela polícia. A marcha teve a participação de mais de 2 mil estudantes, professores e simpatizantes do movimento, que avançaram em direção à Sorbonne, sendo violentamente reprimidos pelos policiais.

A multidão se dispersou, mas alguns manifestantes começaram a erguer barricadas, enquanto outros lançavam pedras contra os soldados, que foram obrigados a bater em retirada. Depois de se reagrupar, a polícia retomou a ofensiva, disparando bombas de gás lacrimogêneo e prendendo centenas de estudantes. Alguns dias depois, em 10 de maio, outras concentrações voltaram a acontecer em Paris.

A multidão ergueu novas barricadas e se preparou para resistir ao ataque policial, que aconteceu no começo da madrugada. Os confrontos duraram até o amanhecer do dia seguinte, resultando na prisão de outras centenas de manifestantes, além de deixar um grande número de feridos.

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