Interpretando Alice a oração que se divide

Quando Lewis Carroll – pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson – presenteou Alice Pleasance Liddell, uma garotinha de 11 anos, com seu manuscrito de Alice no País das Maravilhas, ele não imaginava que esta seria uma das obras mais adaptadas do mundo. No livro de 1865, o escritor britânico idealizou um universo de duplos sentidos que se divide entre o lúdico infantil e um dos melhores registros em inglês vitoriano.

Carroll se tornou referência em literatura nonsense com seus complexos enigmas de lógica e poemas emaranhados a um mundo delirante. “Em uma época em que vigorava um texto moralista, muitas vezes com cunho religioso, criar uma história imaginativa na qual não existe bem e mal foi bastante inovador”, comenta Adriana Peliano, presidente da Sociedade Brasileira Lewis Carroll (SBLC).

Interpretando Alice a oração que se divide

Existem associações focadas em disseminar o livro nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Japão e Canadá. Aqui no Brasil, a SBLC foi fundada em 2009 e organiza eventos com frequência. Grupos de estudiosos, artistas e leitores apaixonados colecionam edições raras, publicam dissertações e estão sempre tentando interpretar os densos textos da obra. “A história abre portas de compreensão do mundo e sempre se mostra diferente. As explicações são infinitas, por isso há tantas pessoas interessadas em explorá-la”, diz Adriana.

Um deles é o excêntrico diretor Tim Burton, com a nova versão do livro para o cinema. O filme 3D de Burton ganhou distorções bizarras, personagens pra lá de caricatos, além de um novo roteiro: Alice cresceu e está com 19 anos. Desconcertada por um pedido de casamento repentino, foge atrás de uma resposta e acaba caindo no conhecido buraco que a leva para o mundo subterrâneo. Burton deu a Alice ar feminista, com espírito livre e contra os costumes rígidos da Inglaterra vitoriana.

Interpretando Alice a oração que se divide

Myriam Ávila, professora de teoria da literatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreveu seu mestrado baseado em Carroll. “Seria apenas sobre o autor, mas, ao ler Macunaíma, comecei a notar semelhanças entre Alice e ele. Então, resolvi explorar o assunto.” O resultado foi uma tese ousada e criativa. Myriam percebeu que o “herói sem caráter” tinha uma queda pelo estrangeiro. Assim como Alice, que transparece sua vontade de explorar mundos distintos. Ambos poderiam sentir interesse um pelo outro.

Loucura? Nem tanto. Afinal, o grande trunfo de Alice é justamente estimular o pensamento por meio de um diálogo não literal, no qual os símbolos, as figuras de linguagem e as metáforas usadas permitem que o leitor construa uma relação entre a fantasia e a realidade e que não queira mais sair desse lúdico universo.

Matéria publicada na Revista da Cultura, edição de abril de 2010.


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Quando Lewis Carroll (...) presenteou Alice, uma garotinha de 11 anos, com seu manuscrito de Alice no País das Maravilhas, ele não imaginava que esta seria uma das obras mais adaptadas do mundo. No livro de 1865, o escritor britânico idealizou um universo de duplos sentidos que se divide entre o lúdico infantil e um dos melhores registros em inglês vitoriano. (...) Um dos artistas que revive Alice é o excêntrico diretor Tim Burton, com a nova versão do livro para o cinema. O filme 3D de Burton ganhou distorções bizarras, personagens pra lá de caricatos, além de um novo roteiro: Alice cresceu e está com 19 anos. Desconcertada por um pedido de casamento repentino, foge atrás de uma resposta e acaba caindo no conhecido buraco que a leva para o mundo subterrâneo. Burton deu a Alice ar feminista, com espírito livre e contra os costumes rígidos da Inglaterra vitoriana.
Este texto tem por objetivo


Alice descansava com a irmã mais velha à sombra de uma árvore quando foi surpreendida pela visão de um coelho branco e de olhos cor-de-rosa. Do bolso do colete que vestia, o coelho tirou um relógio e, conferindo os ponteiros, concluiu estar atrasado. Intrigada com o que via, Alice decidiu seguir o animal. Foi parar em um mundo subterrâneo no qual a lógica da realidade frequentemente era posta à prova. Leia, a seguir, um trecho do romance Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, em que a protagonista conhece algumas curiosas personagens. 


Um chá maluco 

Em frente à casa havia uma mesa posta sob uma árvore, e a Lebre de Março e o Chapeleiro estavam tomando chá; entre eles estava sentado um Caxinguelê, que dormia a sono solto, e os dois o usavam como almofada, descansando os cotovelos sobre ele e conversando por sobre sua cabeça. "Muito desconfortável para o Caxinguelê", pensou Alice; "só que, como está dormindo, suponho que não se importa". 

Era uma mesa grande, mas os três estavam espremidos numa ponta: "Não há lugar! Não há lugar!", gritaram ao ver Alice se aproximando. "Há lugar de sobra!", disse Alice, indignada, e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira. 

[...] 

"Não foi muito polido da sua parte sentar-se sem ser convidada", retrucou a Lebre de Março. 

"Não sabia que a mesa era sua", declarou Alice; "está posta para muito mais do que três pessoas". 

"Seu cabelo está precisando de um corte", disse o Chapeleiro. Fazia algum tempo que olhava para Alice com muita curiosidade, e essas foram suas primeiras palavras. 

"Devia aprender a não fazer comentários pessoais", disse Alice com alguma severidade; "é muito indelicado".

O Chapeleiro arregalou os olhos ao ouvir isso; mas disse apenas: "Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?". 

"Oba, vou me divertir um pouco agora!", pensou Alice, "Que bom que tenham começado a propor adivinhações". E acrescentou em voz alta: "Acho que posso matar esta". 

"Está sugerindo que pode achar a resposta?", perguntou a Lebre de Março. 

"Exatamente isso", declarou Alice. 

"Então deveria dizer o que pensa", a Lebre de Março continuou. 

"Eu digo", Alice respondeu apressadamente; "pelo menos... pelo menos eu penso o que digo... é a mesma coisa, não?". 

"Nem de longe a mesma coisa!", disse o Chapeleiro. "Seria como dizer que 'vejo o que como' é a mesma coisa que 'como o que vejo'!" 

"Ou o mesmo que dizer", acrescentou a Lebre de Março, "que 'aprecio o que tenho' é a mesma coisa que 'tenho o que aprecio'!" 

"Ou o mesmo que dizer", acrescentou o Caxinguelê, que parecia estar falando dormindo, "que 'respiro quando durmo' é a mesma coisa que 'durmo quando respiro'!" 

"É a mesma coisa no seu caso", disse o Chapeleiro e nesse ponto a conversa arrefeceu, e o grupo ficou sentado em silêncio por um minuto, enquanto Alice refletia sobre tudo de que conseguia se lembrar sobre corvos e escrivaninhas, o que não era muito. 

O Chapeleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. "Que dia do mês é hoje?" disse, voltando-se para Alice. Tinha tirado seu relógio da algibeira e estava olhando para ele com apreensão, dando-lhe umas sacudidelas vez por outra e levando-o ao ouvido. 

Alice pensou um pouco e disse: "Dia quatro". 

"Dois dias de atraso!", suspirou o Chapeleiro. "Eu lhe disse que manteiga não ia fazer bem para o maquinismo!", acrescentou, olhando furioso para a Lebre de Março. 

"Era manteiga da melhor qualidade", respondeu humildemente a Lebre de Março . 

"Sim, mas deve ter entrado um pouco de farelo", o Chapeleiro rosnou. "Você não devia ter usado a faca de pão." 

A Lebre de Março pegou o relógio e contemplou-o melancolicamente. Depois mergulhou-o na sua xícara de chá e fitou-o de novo. Mas não conseguiu encontrar nada melhor para dizer que seu primeiro comentário: "Era manteiga da melhor qualidade". [...] 

CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. Trad. Mana Luiza X de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 67-69.


VOCABULÁRIO DE APOIO

algibeira: pequeno bolso costurado por dentro da roupa 

arrefecer: esfriar 

caxinguelê: espécie de esquilo 

fitar: olhar fixamente para algo 

maquinismo: mecanismo, conjunto de peças que faz funcionar um aparelho 

polido: educado 

severidade: rigor, dureza 

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. Ao se aproximar da mesa com vários lugares vazios. Alice ouve do Chapeleiro e da Lebre de Março: "Não há lugar! Não há lugar!". A julgar pelo andamento da conversa, o que Alice poderia depreender desse primeiro comentário? Explique. 

2. O Chapeleiro diz a Alice que o cabelo dela precisa de corte. Por que esse comentário contraria o esperado de uma conversação típica? Indique pelo menos duas razões. 

3. Diante da reação de Alice ao comentário sobre seu cabelo, o Chapeleiro questiona: "Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?". Qual pode ter sido a intenção do Chapeleiro ao fazer essa pergunta? 

4. Alice supõe que "dizer o que se pensa" é a mesma coisa que "pensar o que se diz". Ela está certa? Explique. 

5. O Chapeleiro e a Lebre de Março discordam de Alice e a corrigem. Explique a diferença de sentido produzida pela mudança na ordem das palavras em cada um dos exemplos dados pelas duas personagens. 

6. O que o Chapeleiro dá a entender quando afirma que, no caso da personagem Caxinguelê, dizer "respiro quando durmo" é o mesmo que dizer "durmo quando respiro"?


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Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Carroll, nasceu em Daresbury, Inglaterra, no dia 27 de janeiro de 1832. Filho de um clérico de província nasceu no presbitério de Deresbury.

Onde nasceu Lewis Carroll?

Daresbury, Reino Unido

Que obra infantil foi criada pelo matemático Lewis Carroll utilizando um jogo de tabuleiro como inspiração?

O País das Maravilhas

Quando Lewis Carroll presenteou Alice?

presenteou Alice, uma garotinha de 11 anos, com seu manuscrito de Alice no País das Maravilhas, ele não imaginava que esta seria uma das obras mais adaptadas do mundo. No livro de 1865, o escritor britânico idealizou um universo de duplos sentidos que se divide entre o lúdico infantil e um dos melhores registros.

Qual o objetivo do texto interpretando Alice?

O texto "Interpretando Alice" tem como objetivo principal trazer uma explicação sobre como foi escrito e a quem foi direcionado o livro "Alice no país das maravilhas". O texto nos mostra um pouco da história do autor do livro Lewis Carroll, e o motivo pelo qual o escritor decidiu escrever o livro.

O que significa o sorriso do gato de Alice no País das Mar?

O sorridente gato responde que todos são loucos, inclusive ele e Alice e desaparece lentamente deixando apenas o seu sorriso. O gato é o único personagem na fábula que Alice se refere como “amigo”: o seu sorriso se destaca e se autonomiza da cabeça felina.

Onde fica a saída perguntou Alice ao gato?

Frase de Lewis Carroll “Aonde fica a saída, Perguntou Alice ao gato que ria. Depende, respondeu o gato. De quê, replicou Alice; Depende de para onde você quer ir...”

Quem não sabe o que quer qualquer caminho serve?

Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato. Eu não sei para onde ir! – disse Alice. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.

Quando você não sabe o que quer qualquer coisa serve?

Lewis Carroll: Se você não sabe onde quer ir,... Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve.

Quanto tempo dura o que é eterno às vezes apenas um segundo?

"Quanto tempo dura o eterno? Às vezes apenas um segundo." (Alice no País das Maravilhas). Num determinado percurso da vida, os segundos passam a ter um valor incalculável. A maturidade é capaz de se desfazer do ímpeto de querer quantificar tudo e alcançar aos dias um outro significado.

Como é o nome do gato de Alice no País das Maravilhas?

O Gato de Cheshire, Gato Risonho, Gato Listrado ou Gato Que Ri é um gato fictício famoso através do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.

O que significa a palavra Cheshire?

Cheshire é um condado da Inglaterra e o seu significado corresponde a uma expressão inglesa para uma pessoa que vive sorrindo ou ri muito.

Qual é o nome do gato do Gargamel?

O personagem Gargamel, cujo nariz, segundo o autor, "lembra uma caricatura antissemita", e seu gato, que se chama Azrael (Cruel, na versão brasileira), foram usados como exemplos de estereótipos, assim como o perfil de beleza "ariano" de Smurfette, a única mulher do povoado.

Quais os melhores nomes para gatos?

Nomes criativos para gatos

  • Amy, Jagger, Janis, Lennon, Ringo;
  • Frida, Tarsila, Camões, Capitu, Sherlock;
  • Bichento, Bilbo, Elvis, Freddie, Clarice;
  • Spock, Edwiges, Minerva, Han Solo, Leia,
  • Frodo, Gogol, Hermione, Syd, Tolstói, Yoda.

Qual é o significado do nome gato?

Significado de Gato substantivo masculino Nome comum dado ao pequeno mamífero da família dos felídeos Felis Catus, carnívoro e doméstico, muito popular como animal de estimação; gato caseiro: meu gato adora se aninhar no meu colo. [Popular] Homem muito bonito, de boa aparência; gatão, galã: meu namorado é um gato.

Qual é o nome do gato preto?

Gatos pretos machos Panther, Dark, Dusty; Smoke, Cacau, Thunder, Café, Gus, Bach.